Tragédia no Rio - Teresópolis - Há sobreviventes desassistidos há quase três semanas dos deslizamentos |
Porque o socorro está tão lento?
Em Teresópolis, Prefeitura briga com Igreja e Cruz Vermelha por doações
Em Teresópolis, Prefeitura briga com Igreja e Cruz Vermelha por doações
Por Marise Jalowitzki
30.janeiro.2011
Porque o socorro está tão lento em Teresópolis? Há notícias de que o prefeito Jorge Mário Sedlacek continua afirmando que há condições de efetuar os salvamentos e resgates necessários às expensas da prefeitura, e dispensa ajuda de cidades e estados vizinhos, como São Paulo, Paraná e Santa Catarina, que disponibilizaram médicos e demais voluntários socorristas. Qual o motivo de não aceitar a ajuda? Será para que não se contabilizem o número real de mortos e desaparecidos?
Com certeza, nem ele imaginava que a tragédia seria desse tamanho. Mas, com certeza, também, SABIA que poderia acontecer.
A situação continua muito ruim. E se agrava a cada instante. Há mais de uma semana, o Ministério da Saúde advertiu para o risco das doenças advindas das condições precárias, cheiro, decomposição dos corpos, água contaminada. Leptospirose já foi diagnosticada em cinco pessoas.
Tragédia no Rio de Janeiro. Tragédia anunciada. Tragédia já acontecida outras vezes. Tragédia para ninguém esquecer. Por ser a maior, a mais chocante, a mais previsível. Com ainda tanto por fazer e o socorro tão moroso!
A Igreja Católica chama a situação de "briga de egos".
O prefeito de Teresópolis está na vitrine. Jornais estão dando destaque para uma falta de providências mais rápidas e concretas em várioss pontos, onde a ajuda ainda não chegou.
Ainda há pessoas que não receberam socorro, que permanecem sem intervenção, sem ajuda, sem salvamento, apesar do enorme e desesperador tempo decorrido.
Quantos são?
As estimativas sobre o número de mortos e desaparecidos baseia-se apenas nos registros de quem paga IPTU, ou daqueles que pagam luz e água sob fatura da prefeitura. Nas áreas das encostas é sabido que pipocam pessoas e habitações precárias, cidadãos que trabalham na informalidade e que, as mais das vezes, nem possuem comprovação de identificação, nem registro de nascimento, nem inscrição em lugar algum.
Há poucos anos foram notícia os mutirões dos cartórios indo até os locais para registrar pessoas e a realidade trazida foi assustadora: Duas, três gerações vivendo sob o mesmo barraco, sem que nenhuma delas tivesse Certidão de Nascimento.
Também, não há orientação para que pessoas habilitadas pela prefeitura ouçam os relatos da população, que permanece em abrigos, por não ter onde ir. Os ginásios poliesportivos perpetuando a tradição de senzalas; todos amontoados, sem referências, guardando lembranças, enterrando sonhos e aguardando a água potável, que chega devagar, para matar a sede imediata.
Como saber quantos parentes estão desaparecidos? Sim, pois se houvesse alguém ouvindo e registrando os dados fornecidos pela população sobrevivente, seria possível ter uma idéia de quantas pessoas habitavam as encostas.
Não há dúvida de que o número de mortos e desaparecidos no Rio é bem superior ao que está sendo divulgado.
As estatísticas vão aumentando a cada dia, com novos cadáveres sendo encontrados. Quando se fala em desaparecidos, fala-se daqueles que desapareceram em condomínios, em casas registradas, onde havia o conhecimento de quantas pessoas ali habitavam. E as centenas e centenas e centenas de habitações de quem a prefeitura sequer tinha conhecimento (já que água e luz eram utilizados clandestinamente)?
E quanto ao número de desaparecidos? Várias vezes os bombeiros declararam:
"É muita lama, são metros e metros de lama que rolaram pelas encostas, levando casas, pessoas, tudo que havia pela frente. Nunca saberemos quantos corpos estão soterrados ali. Não há como escavar! É impossível!"
Há relato de um rapaz que ficou na parte mais alta de sua antiga e confortável residência, esperando socorro. Enquanto aguardava, declarou ter contado 15 corpos que desceram pelo jardim de sua casa, para desaparecer ladeira baixo, minutos depois.
Região serrana do Rio - As pedras que rolaram das encostas soterraram a realidade |
E naqueles lugares onde as pedras desceram em quantidade tal que fica difícil de acreditar? Quem irá remover as enormes rochas que rolaram, céleres, arrastando tudo e todos, por centenas de metros, até se amontoar em inimaginável topografia ao sopé dos morros? Ninguém. A realidade de então está soterrada.
Há relatos de desentendimentos entre Cruz Vermelha e Prefeitura, entre Igreja Católica e Prefeitura.
Várias pessoas estão revoltadas com a ineficácia das providências tomadas pela prefeitura até agora. Um pouco disto está sendo publicado na mídia (veja links a seguir).
"Está acontecendo uma briga de egos aqui em Teresópolis. A prefeitura determinou que nada pode ser entregue sem sua autorização", disse Jairo Gama, um dos cem voluntários da Cruz Vermelha em atividade na cidade.
O prefeito de Teresópolis, Jorge Mário Sedlacek, negou que houvesse qualquer problema de entendimento.
A prefeitura de Teresópolis está sendo acusada também de impedir a distribuição de donativos por parte da Igreja Católica.
O prefeito de Teresópolis teima em não convocar as forças de outros estados para auxiliar nas buscas. A tentativa é de abafar, o mais possível, a dimensão da tragédia, para evitar a revolta popular e a indignação internacional.
Com certeza, querem preservar a imagem vendida para as diferentes competições esportivas que o Rio de Janeiro sediará, entre elas a Copa e as Olimpíadas.
Vão conseguir?
Certamente que sim.
Até porque o brasileiro, "que já doou", já não quer se envolver mais muito "naquilo tudo". E os estrangeiros, nem terão condições de avaliar a extensão da desgraça.
O desespero dos que estão em desalento no Rio, sob um sol causticante, ainda procurando por seus mortos, outros, sem ter para onde ir, à espera de garrafas d'água que ainda não vieram (embora já tenham sido doadas), para esses, sim, a dor ainda não passou, nem existe a esperança de melhores dias.
Seus lamentos não chegam nem até à cidade, que continua ensaiando para o seu fantasioso desfile monárquico, que continua envolvida com os jogos de futebol e com as noites cariocas tão turbinadas.
No início da tragédia, o prefeito se apressou em divulgar que a região turística continuava em condições de receber seus visitantes. O medo de perder os milhões de reais que os turistas haviam prometido, fê-lo passar por um papel vexatório: o de ser desmascarado pelo fatos poucos instantes após.
COMO TUDO CHEGOU A ESTE CAOS? Simplesmente saber que a área é de risco, já haver acontecido outros vários deslizamentos e, simplesmente, deixar de lado, não lutar mais? Não negociar mais?
Não pode ter sido por maldade. Foi por ineficiência. Por falta de comprometimento. Sim, se os recursos prometidos pela União contemplaram apenas 40% do prometido, tinha de ter havido reclamação em viva voz...
O "dono do sapato é quem sabe onde o calo aperta", diz o dito popular. Ou seja, quem está vivendo a situação na pele é quem sabe o quanto deve gritar para ser ouvido. Quando não o faz, deixa as portas abertas para a indiferença das demais instâncias.
Há resultados de pesquisas de órgãos do governo, incluindo 2007, alertando sobre a iminência dos deslizamentos e pedindo providências urgentes.
Há notícias da acusação de crime ambiental para a Schincariol, que tem suas instalações na região serrana (e que agora presta assistência às vítimas).
...
Por isso é que reforço o que comentei em artigo anterior: ESTARÃO OS PREFEITOS APTOS A OCUPAR SEUS CARGOS? Ou serão apenas mandatários dos partidos?
Os altos impostos que são repassados para a União amarram os pulsos dos signatários municipais, sim. Agora, quando o interesse público é maior do que o interesse individual, há a grita geral, há denúncias, há declarações à imprensa, há idas e negociações junto aos demais órgãos.
A situação ficou à deriva, sim senhor.
- Queremos a cabeça do prefeito do Rio de Janeiro? Não, isto não resolveria o caso.
- Queremos que ele seja demitido do cargo? Não, pois, caso isso acontecesse (doce ilusão!) o efeito cascata seria inevitável e irreversível. Quantas centenas de prefeitos estariam em igual situação de despreparo?
- Queremos que ele, enquanto governo, seja responsabilizado? Sim, pois uma decisão nesse sentido servirá de exemplo para tantas outras cidades e municípios.
Fato feito, não é possível apenas correr atrás dos efeitos desastrosos. É preciso estender as medidas de elucidação, conhecimento e prevenção para todos os demais municípios brasileiros.
Quando Dilma bateu no peito e disse: a responsabilidade é do governo federal, assumiu o compromisso para si. Vero. Que se indenizem os sobreviventes e se criem condições dignas para que tenham força para continuar vivendo.
Marise Jalowitzki
Escritora
marisej@terra.com.br
(51) 97056424
Porto Alegre - RS - Brasil
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Link sobre o tema, neste blog:
Prefeitos são pessoas aptas para gerir sua cidade?
http://compromissoconsciente.blogspot.com/2011/01/prefeitos-sao-pessoas-aptas-para-gerir.html?showComment=1296321364569
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Jornal O ESTADO DE SÃO PAULO:
Em Teresópolis, Prefeitura briga com Igreja e Cruz Vermelha por doações -
http://www.estadao.com.br/noticias/cidades,em-teresopolis--prefeitura-briga-com-igreja-e-cruz-vermelha-por-doacoes-,667467,0.htm
Em Teresópolis, Prefeitura briga com Igreja e Cruz Vermelha por doações
Decano da Diocese de Petrópolis diz que situação é de boicote; prefeitura nega
17 de janeiro de 2011 | 19h 34
Bruno Boghossian e Roberta Pennafort - O Estado de S. Paulo
RIO e TERESÓPOLIS - De um lado, donativos que chegam às toneladas de todo o País; de outro, a falta de entrosamento entre a prefeitura de Teresópolis e organizações que tentam fazê-los chegar de modo mais eficiente a quem precisa, como a Cruz Vermelha e a Igreja Católica, cuja iniciativa, segundo voluntários, está sofrendo obstrução por parte do poder público. Até médicos foram impedidos de trabalhar.
Enquanto isso, milhares de desabrigados ainda têm dificuldades para conseguir água, alimentos e artigos básicos para sua sobrevivência.
Wilton Junior/AE
Moradores do bairro de Campo Grande, em Teresópolis
Hoje, voluntários da Cruz Vermelha relataram que funcionários da prefeitura tentaram impedir a saída de carregamentos do galpão montado pela organização internacional no centro da cidade. A prefeitura nega.
"Está acontecendo uma briga de egos aqui em Teresópolis. A prefeitura determinou que nada pode ser entregue sem sua autorização", disse Jairo Gama, um dos cem voluntários da Cruz Vermelha em atividade na cidade.
Numa reunião entre as duas partes, a prefeitura decidiu que iria centralizar a entrega do material. A Cruz Vermelha, no entanto, acredita que tenha condições de fazer um trabalho mais direcionado, já que dispõe de informações precisas sobre as necessidades de cada localidade.
Apesar da intervenção da prefeitura, a Cruz Vermelha continuou fazendo entrega de material hoje - montou um ponto de distribuição em outro ponto da cidade. "O que a gente quer é evitar o desperdício. Por exemplo: não adianta entregar 30 quilos de arroz a uma pessoa de uma vez só", explicou Luiz Alberto Sampaio, presidente da Cruz Vermelha no Rio.
O prefeito de Teresópolis, Jorge Mário Sedlacek, negou que houvesse qualquer problema de entendimento.
"Uma operação como esta precisa de um comando centralizado. Está todo mundo cooperando. Não temos dificuldade com ninguém", afirmou. Mas no domingo, segundo relatos de voluntários, até a polícia teria, a mando da prefeitura, tentado impedir a saída de um caminhão.
Mesmo médicos que estão em Teresópolis para prestar atendimento gratuito à população sofreram impedimento de sair da base da Cruz Vermelha por funcionários da prefeitura. Isso ocorreu hoje de manhã.
À tarde, numa reunião, ficou definido que a Cruz Vermelha atuará no atendimento nas cinco localidades mais castigadas. Mas a princípio estaria impedida, oficialmente, de entregar donativos.
A prefeitura de Teresópolis está sendo acusada também de impedir a distribuição de donativos por parte da Igreja Católica. Segundo o padre Paulo Botas, integrantes da comunidade católica que foram até o estádio Pedrão ouviram de funcionários municipais que "nenhuma igreja católica de Teresópolis iria receber doações". A prefeitura desmente a informação - diz que a religião dos desabrigados não é fator levado em consideração.
"O prefeito é evangélico e não quer que a ajuda vá para os católicos", critica o padre, da igreja do Sagrado Coração de Jesus de Barra do Imbuí, área bastante afetada pelas chuvas. Ele contou que foi alugado um galpão na frente da igreja, para onde seriam levados roupas e alimentos que emissários recolheriam do montante estocado no Pedrão.
Sem querer entrar em detalhes sobre a religião do prefeito, o padre Mario José Coutinho, decano da Diocese de Petrópolis, disse que a situação é de boicote à Igreja Católica. "É surreal, uma ofensa, uma vergonha. Transformaram uma questão humanitária em religiosa". Nesta terça, antes de rezar uma missa de sétimo dia no Imbuí, o bispo de Petrópolis, dom Filippo Santoro, terá uma reunião com o prefeito para discutir o assunto.
Jornal O GLOBO: Cruz Vermelha de Teresópolis estaria sendo impedida de trabalhar pela prefeitura local -
http://oglobo.globo.com/rio/mat/2011/01/17/cruz-vermelha-de-teresopolis-estaria-sendo-impedida-de-trabalhar-pela-prefeitura-local-923517236.asp
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Brasil-Link
Denúncia à Cruz Vermelha Internacional
http://www.brasil-link.org/Brasil-link%20apresenta%20denúncia%20à%20CRUZ%20VERMELHA%20INTERNACIONAL.htm
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E mais: confira na barra lateral (Tragédia no Rio)
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http://oglobo.globo.com/rio/mat/2011/01/17/cruz-vermelha-de-teresopolis-estaria-sendo-impedida-de-trabalhar-pela-prefeitura-local-923517236.asp
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