segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Morrer resolve?

Tank Man - jovem que impede temporariamente o avanço dos tanques - junho 5, 1989 - Tianasquare


Morrer resolve?



Hoje, 04.junho.2012, faz 23 anos que o mundo assistiu estarrecido o enfrentamento de milhares de chineses aos tanques que intimidavam. O avanço continuou, até que um jovem correu em frente a eles e fez com que parassem, temporariamente, sua marcha de proibição, de cerceamento, de negação ao novo. Temporariamente, mas a imagem ficou marcada como uma das mais fortes e emblemáticas do século XX. Os que queriam a mudança para melhor, o afrouxamento do regime, mais justiça e igualdade, ainda não viram a mudança acontecer.


Nos que idealizam, os ideais de  Liberdade e Paz precisam ser revistos, pois os tempos são outros. Mudanças tecnológicas e científicas já estão em avanço inimaginável, as estratégias hoje se desenham em negociações, arranjos, acordos, encontros, acertos. Remédios caminham lado a lado com os chips de monitoramento.


Algo, porém, está mudando. Há um segmento que recebe cada vez mais adeptos: os que querem explicações, os que vão atrás da origem, os que querem fatos e não apenas escândalos.  Os que precisam ser convencidos e não apenas "comprados".


A conscientização continua sendo, para mim, a mais garantida forma de mudança. Conhecimento, conhecimento, conhecimento. Apostar nas crianças e jovens, que cobram dos pais uma atitude mais ecológica e solidária, ainda é capaz de garantir frutos de Esperança num porvir que precisa ser presente.


Resolvi incluir estes parágrafos no mesmo texto que, há mais de ano, incluiu reflexões importantes e que geraram o título deste artigo.




Por Marise Jalowitzki e Luiz Fernando Babdetti
31.janeiro.2011
http://compromissoconsciente.blogspot.com/2011/01/morrer-resolve.html


O amigo Luiz Fernando Babdetti, após comentar sobre vários desmandos que continuam acontecendo em nosso país, arrematou:


"Um povo que não tem a coragem de morrer por seus ideais, se é que eles existem...VIVE! SOFRENDO!"


"São escravos da ignorância, da omissão e do esquecimento pela covardia. Situações imperdoáveis para um povo livre. Terminam morrendo mesmo assim...sem encarar os seus algozes, por medo e covardia.
Viva! Viva o Tiririca!!! Outros políticos??? Ora, se o Tiririca pode, imaginem os outros..."


"Vão terminar sem planeta para morar..."


"A natureza, está apenas em reação química direta em relação às agressões e esses inocentes que sofreram, foram avisados disso, por uma candidata a presidência que, pela maioria deles, não foi a "escolhida" por ser correta demais."
"Marise, eu não escrevi isso que voce agora lê."
"Eu nada vi, nada ouvi, nada falei e por favor não me comprometa pois, não sou casado, não tenho filhos, nem emprego fixo, moro em um veleiro e não pago impostos sobre contas bancárias. Como você lê, eu tenho muito a perder com as minhas declarações mas, pode publicar esse comentário, se quiser..."
"Tenho lido suas postagens. Você pertence a um Mundo Ético, que muitos gostariam de habitar..."
"Abraços Verdes!!! "


Após ler o desabafo, pleno de indignação, pus-me a pensar sobre a alternativa proposta pelo amigo para obter uma mudança efetiva:
Morrer.
Morrer por seus ideais.
Morrer por uma causa.
Morrer pela Pátria.
Será?


SERÁ QUE VALE A PENA?
Valeu a pena, algum dia?
Para mim, toda morte provocada é inútil. TODA.
Guerras, guerrilhas, rebeliões, revoluções.


É notório que a indignação está crescendo dentro de cada cidadão consciente. Ontem mesmo li um artigo de um amigo de 75 anos, que falava as mesmas coisas que Babdetti. De "ir à luta!" - Noutro dia até mesmo estava cantarolando um hino (não sei bem qual é) que diz assim:

Os Governos precisam estar mais atentos
às necessidades de seu povo!


"A Paz queremos com fervor
A guerra só nos causa dor!
Porém, se a Pátria Amada
For um dia, ultrajada
Lutaremos com valor!"


E segue:
"Como é sublime
Saber amar
E com a alma adorar
A terra onde nascemos
Amor servil            (????)
Pelo Brasil
No coração
Sempre teremos!"


Letra aprendida e decorada na infância, fica "chipada" no subconsciente..

Hoje, esta letra me faz refletir. Não acredito que empunhar armas possa resolver qualquer coisa. Violência só faz gerar mais violência.

Quem acompanhou a vida de Che Guevara e seus maravilhosos ideais iniciais, de justiça e igualdade, sabe quais os caminhos que ele teve de trilhar, as mudanças em suas ações para que pudesse levar adiante suas idéias, e como foi incansavelmente caçado pelos seus opositores, até o matarem.


Eu nunca li muito sobre o comunismo, mas sei dos ideais iniciais de Iosif Vissarionovich Djugatchvili, por exemplo, e o testa de ferro que se tornou depois, após assumir ser Stalin, o "homem de aço". Perseguições, torturas. O número de vítimas (ucranianos que morreram de fome, demais deportados e torturados) está entre 4 e 9 milhões!


Temos a nossa realidade do Araguaia e do fosso da Gávea.

As bárbaras torturas e mortes havidas no Uruguay, pela mesma data/década de 70.


As paradas pacíficas e sofridas das "Locas de la Plaza de Mayo" na Argentina, por quererem saber de seus filhos desaparecidos na Guerra das Malvinas, uma guerra arranjada, para "distrair" a atenção do povo dos sérios problemas econômicos que o país atravessava.


Quando todos aqueles rapazes chineses foram trucidados em plena Praça da Paz Celestial, em maio de 1989, o estudante símbolo conseguiu chamar a atenção de todo o mundo ao mudar a direção do tanque que, por diversas vezes, evitou esmagá-lo. Até hoje não se sabe ao certo qual o fim que ele levou depois de ser retirado de frente aos tanques.

O anônimo herói é uma lembrança, um ícone. Os caminhos, na China, seguem os ditames de seus governos, independente se o povo está satisfeito com salários, com jornada de trabalho, com salubridade, com a exportação de órgãos, com a rigidez no regime  ou com os ditados estilos de vida. Nada muito diferente do que acontece em outros países.





Naquela época (1989), pintei uma tela, inclusive, em homenagem a esses jovens e coloquei o título de Sangha - ou Xangha - uma comunidade de amigos juntos de forma a fazer acontecer e manter a consciência. A essência da Sangha é consciência, entendimento, aceitação, harmonia e amor. Quando você não vê isto em uma comunidade, não é uma verdadeira Sangha e você deveria ter a coragem de dizer. Mas quando você encontra esses elementos presentes em uma comunidade, sabe que tem a felicidade e a sorte de estar em uma Sangha real

Quando esta tela integrou uma exposição que produzi na agência do Banco do Brasil próxima ao local de trabalho, meus colegas ficavam horas em frente à tela, decifrando os enigmas (o quadro era abstrato) e tínhamos longas conversas, após, sobre justiça social e manifestação popular. Quem eram os "amarelos", o que significava o roxo, o valor da morte e da vida. Dali foi se encaminhando minha curta atuação efetiva em movimentos populares.


Atualmente, vemos as mãos que se insurgem contra aumento de passagens na França, no Brasil. As revoltas violentas na Tunísia. No Egito. As afirmações de Mubarak, após 30 anos no poder, de que vai combater com mãos de ferro o que chama de inssurreição dos manifestantes, volto a refletir sobre a validade, ou não, dos sacrifícios.


No Acre, Chico Mendes declarava: "Se descesse um enviado dos Céus e me garantisse que minha morte iria fortalecer nossa luta, até que valeria a pena. Mas a experiência nos ensina o contrário. Então, eu quero viver!!!" Foi assassinado em 1989, com um tiro pelas costas. Hoje sua casa é ponto de visitação. Os turistas saem encantados pela grandiosidade da floresta e apavorados...pelo excesso de picadas de mosquitos, apesar do uso de repelentes... 


Ou seja, morrer resolve? Muda? Melhora?

Toda a nossa experiência brasileira, com tantos jovens que morreram ou ficaram deficientes ou alterados para sempre (veja o próprio caso do ex-marido de Dilma), será que realmente vale a pena?

Quando as pessoas "chegam lá" deixam-se encantar pelo poder, deixam-se seduzir pelo destaque e benefícios. E mudam os antigos ideais por atuais ritos de auto-importância e auto-endeusamento!


Assim: Sou grata pela oportunidade de comentar as coisas que sinto e acredito. Sou muito mais da persistente e contumaz divulgação e comentários de ideias, como as que estamos socializando agora.


As pessoas, para perder o medo de forma consciente e eficaz, precisam ir tomando pé de informações que as façam pensar, que as libertem do marasmo mental, para se sentirem seguras em opinar e, daí, acompanhar, exigir e mudar as coisas para melhor.


Estar atentos, o tempo todo; a população mostrar que está atenta, denunciar, vai deixando o fraudador um pouco mais acuado. Só acuado, eu sei. Vai tentar ficar "mais esperto"... Mas, com a internacionalização da informação em tempo real não é mais assim tão isento ser corrupto sem, pelo menos, levar esta péssima fama pelo mundo afora.


As empresas, de um modo geral, já estão se importando mais com sustentabilidade. Porque? Por consciência e respeito ao ecossistema? Nada disso! Primeiro, pelas multas advindas dos processos de certificação, que garantem portas nas exportações (as leis ISO, OSHAS, etc.). Segundo, por haver grandes grupos internacionais que não enxergam com bons olhos quem polui indiscriminadamente. Tal tendência cresce a cada dia.


Temos que nos empenhar mais e mais e mais para que este movimento de qualificação atinja, urgentemente, o humano (onde deveria ter começado).

Deliberadamente, morrer não promove mudanças. Acaba abafando e inibindo novas manifestações.

Agora, as mortes de inocentes nunca poderão ser esquecidas. Nem consideradas em vão.

Nada está ganho.
Tudo está em alerta.
Temos de continuar divulgando e cobrando.


Sou pela Paz e pelo Compromisso Consciente!


Marise Jalowitzki
Escritora



Sangha ou Xangha - Lugar de entendimento e evolução

6 comentários:

  1. Marise,
    Excelente artigo, crônica, escrito, mensagem.
    Morrer não resolve.
    A vida é bela e como diz a música do Leminsky, mesmo que a Terra não passe da próxima guerra, mesmo assim valeu.
    Marise, você propõe e luta por dias melhores, como eu, pela felicidade. Porque eu acredito que o homem foi criado para viver e ser feliz.
    Hoje, ao chegar ao meu trabalho, estava a me lembrar das palavras do Pai Nosso, que dizem:
    Pai Nosso que está nos céus. O pai não é só meu, é nosso.
    Venha a nós o vosso reino. Como imaginamos o reino de Deus? Com guerras? Sofrimento? Lutas inglórias? Sinto muito, mas eu imagino-o com calma, felicidade, distribuição igualitária de rendas e recursos. E, por aí vai.
    Eu imagino que a vontade de Deus para o homem é plena de boa vontade, de felicidade, de bem querer.
    A morte chegará para todos nós e se nos apanha no cumprimento do dever como o foi com a Dra. Zilda Arns, no Haiti, não há o que fazer. Mas não temos porque procurá-la, ou cantá-la em prosa e verso.
    Quantas pessoas já vimos com ideais nobres e que não conseguiram implementá-los. Isto é verdade. Devemos reconhecer que em determinado momento eles nos ensinaram e se mais tarde foram vencidas pelo imediatismo do dia a dia, isso não significa que as bandeiras que eles levantaram falhas naquele momento.
    Por isso gostei quando Marina falou que aprendeu muito com Fernando Henrique Cardoso, eu também aprendi.
    Assim como já admirei o Lula...
    Ratifico as tuas palavras, quando dizes que devemos ficar atentos e denunciar. Concordo também em relação à qualificação que deveria começar pelo ser humano. Os 5 esses deveriam ter lugar na nossa vida.
    A limpeza deveria começar nos nossos pensamentos, palavras e ações.
    Temos de continuar divulgando e cobrando.

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  2. Grata Amiga, pelas palavras consonantes! E agradeço por demais, também, ao Babdetti, que proporciona a todos nós essas reflexões! Somos todos buscadores e fazedores! Muitos abraços!

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  3. Parabéns Marise e Babdetti, memorável e reflexivo artigo. Hoje eu retwitei essa mensagem da nossa amiga Marinera, http://twitter.com/Laurafwx_ "Brasileiros aprendam com os egipicios a fazer protesto." Se assim o fizéssemos, seríamos mais respeitados por esses pseudos Governantes que aí estão.
    Caloroso abraço!

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  4. Mundo intrigantemente triste!
    Mesmo indo pacificamente se manifestar, ONU reconhece 300 mortos no Egito!
    O povo vai com seu corpo, sentimento e vontade. O governo responde com morte.
    Seria diferente aqui?

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  5. O cenário que agora o governo egípcio mostra ao mundo, traz uma certeza: é preciso continuar.
    Entrar deliberadamente em uma guerra,não. Mas, após ganhar o espaço que o povo ganhou, não tem mais como retroceder.

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