sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Leite derramado, batatas no aterro. Até quando o desperdício? Batatas são despejadas em aterro em Minas Gerais



Batatas são despejadas em aterro em Minas Gerais

Leite derramado, batatas no aterro. Até quando o desperdício? Batatas são despejadas em aterro por produtores mineiros


Por Marise Jalowitzki
07.janeiro.2011
http://compromissoconsciente.blogspot.com/2011/01/batatas-sao-despejadas-em-aterro-em.html


É sempre a mesma coisa: quando o tempo não ajuda, a safra é miúda, os preços sobem, o consumidor inventa e reiventa cardápios para manter qualidade e preço em sua mesa.


Quando a safra é boa, o preço que o agricultor recebe por vender seu produto, cai drasticamente; por vezes, não conseguem nem cobrir o valor dos juros pelos empréstimos bancários. E o consumidor continua pagando o mesmo preço pelos produtos.


O jornalista televisivo anuncia safra recorde de batatas no sul de Minas Gerais. "Produtores já descartaram dezenas de toneladas de Batatas no aterro de Ipuiuna, no sul de Minas Gerais, nas últimas semanas. (...) O movimento é grande." Safra recorde + chuvas intensas = preço baixo. O resultado é triste: Toneladas e toneladas de batatas estão sendo despejadas nos aterros. Alguns agricultores estão alimentando o gado.


Lembram daqueles tempos em que aqui no Rio Grande do Sul (e noutros estados, também), os agricultores jogavam em plena BR os produtos, amassando-os com tratores? Ou queimavam, para chamar a atenção da mídia? Sim, pois as autoridades permaneciam surdas.

Ainda no RS, em MG, em vários estados brasileiros, lembram do quadro assustador do leite sendo despejado no asfalto, o alimento escorrendo pelas ruas, em protesto pelo preço baixo oferecido pelo governo? (Procurei uma imagem na web, não encontrei. Em minha tela mental o desalentador quadro ainda permanece) Aconteceu há pouco tempo, na Suíça, na Grécia, em vários países da Europa. 
Suíça - protesto contra preço do leite
Grécia - pessoas assistem protesto contra preço do leite
Bélgica - leite derramado em protesto ao baixo preço


Erradas estão as políticas públicas, que não valorizam o trabalho e o esforço dos homens e mulheres do campo. Os estímulos são para os carros, a indústria automobilística; e para o concreto, construção civil. Para o petróleo. O ex-presidente falava, empolgado, que gostaria de banhar-se em petróleo. Comeremos petróleo? Comeremos carros? Será argamassa, concreto e cimento o nosso alimento?


Agora, errados também estão os agricultores e os pecuaristas. Porque não protestar, chamar a atenção, entregando o produto para entidades carentes, para associações filantrópicas? Para bairros miseráveis, onde habitam milhares de pessoas que mal tem o que comer? Quantos orfanatos receberiam o leite com satisfação, onde crianças subnutridas sorririam felizes por ter o alimento tão requerido?Será que a mídia não iria cobrir com a mesma "emoção" e atenção? Já tentaram?


Certa vez comentei com um pecuarista de bagé sobre o assunto. Ele respondeu, veementemente: "-Dar para os pobres? Aí mesmo é que o governo vai deitar e rolar! Aí, sim, eles "resolvem" dois problemas de uma vez só: não oferecem melhores preços pra nós e os miseráveis ganham comida por nós mesmos. Eles não precisam nem se 'coçar'. " O raciocínio pode estar certo, mas a filosofia que o move, não. A solidariedade tem de partir de algum segmento, senão, o que vai ser?


Ações individuais, pequenos grupos e associações já estão fazendo a diferença. Mas é miúda, pontual. Para mudar o quadro são necessários ajustes tão mais profundos!


Com muita tristeza assisti, mais uma vez, tanto alimento sendo jogado fora, em uma terra promissora como a nossa, em um solo em que, apesar de tantas e tantas agressões, continua a perpetuar o velho slogan: "Em se plantando, tudo dá!"


Marise Jalowitzki
Escritora
marisej@terra.com.br
Porto Alegre - RS - Brasil
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http://g1.globo.com/minas-gerais/noticia/2011/01/produtores-do-sul-de-mg-descartam-toneladas-de-batatas-em-aterro.html

Grande oferta na região e chuva são os motivos da dispensa.

4 comentários:

  1. Cara Marise,
    Também assisti,com pesar, o fato de alimentos serem jogados fora,desperdiçados em sinal de protesto dos agricultores, enquanto há tantas pessoas passando fome.
    Perguntei-me na hora o que poderíamos fazer para não ver mais esse quadro se repetir.
    So não concordo com você quando dis que os agricultores e pecuristas estão errados. Não concordo porque eles são vítimas da falta de planejamento do governo e da falta de vontade política de distribuição de renda. E eles não podem dar o que lhes sobra aos mais pobres, porque eles vivem dos produtos que plantam e que deveriam ter preços mínimos garantidos pelo governo, que deveria possuir galpões para comprar os alimentos que excedessem à demanda e ter uma política de distribuição desses alimentos. Isso já se discute no Brasil há muito tempo. Existe um livro sobre desenvolvimento da agricultura de Celso Pastore, dos anos 70 que já prega esse planejamento. Porque o governo não faz? Porque não lhe interessa. E depois vem a equipe da Dilma Rossef discutir para conceituar o que é probreza extrema. Enquanto isso muitas pessoas passam fome e morrem no Brasil e no mundo.
    Portanto, cara Marise, o pecuarista de Bagé estava certissimo no seu raciocínio, porque quando se está em risco de passar fome, não se pode parar para pensar na fome do outro.
    Por isso eu tenho insistido que nós devemos ser esse estamento que fica no meio entre o pobre e os políticos ou os ricos, porque nos ainda não estamos sendo ameaçados. Portanto a hora é agora. Nós ainda podemos fazer a diferença.
    Um abraço da amiga

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  2. Querida Ana Rosa. Grata pela contribuição, pelo interesse em dividir opiniões.
    Só não entendi: Os agricultores e pecuaristas não podem dar aos que nada tem aquilo que sobra (ou é rejeitado pelas políticas públicas)? É por isso que a vida no planeta não muda! Quando o pensar solidário for superior ao pensar individual, aí sim, poderemos falar em mudança efetiva, pois somente a partir da mudança no interior de cada um, no coração de cada um, é que iremos poder falar em desenvolvimento!
    Não estamos falando em "fome" pelos pecuaristas e agricultores. Estamos falando em prejuízo, em aumento dos débitos decorrentes dos altos juros dos empréstimos bancários. Mas não em fome. Dar para quem tem fome, significa dar para quem não tem a próxima refeição, e que são milhões e milhões no mundo.
    O pecuarista de Bagé, este, em particular, era "bem" rico. Portanto, ele não estava certíssimo.

    Dividir o que se tem é ainda maior do que dividir o que "sobra". Agora, não doar nem o que "sobra", aí, não entendo.

    "A mudança necessária não acontecerá pelos governos. É no coração do homem que se encontram os baluartes da paz." - Khrishnamurti - adotado pela UNESCO.

    Abraços!

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  3. É mais do que politica pública, é planejamento interministerial, é se ter preço minimo subsidiado para os agricultores, é o MAPA saber que vai ter safra recorde, e sair vendendo os produtos no mercado internacional
    É ter projetos com o Bolsa família e outras assistencialidades, para que a fome das classes mais infra, seja atenuada
    Esta mentalidade de monocultivos, de Cana, Batata, quanto veneno nisso, e os animais silvestres, os pássaros, as abelhas, os rios, o solo, os policultivos, a mesa do agricultor que não é mais biodiversificada e rica em saúde, onde ficam?

    Mas para que servem estes governos preguiçosos, para serem sempre incompetentes, para ganharem a mais para fazerem o minimo, isso já, depois de 25 anos de luta intensa, e já cansei, este câncer todo ano acontece, e as politicas publicas reais, tem 10 % de eficiência ! Orua

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  4. Amigo Orua:

    Isso é o que eu chamo Política Pública.

    Política Pública significa tratar a situação com visão ampla de todo o processo, contemplando todas as etapas com efetividade:
    - é planejamento interministerial,
    - é se ter preço minimo subsidiado para os agricultores
    - é o MAPA saber que vai ter safra recorde, e sair vendendo os produtos no mercado internacional
    (o MAPA sabe, as Universidades informam com meses de antecedência)
    - É ter projetos com o Bolsa Família e outras assistencialidades, para que a fome das classes mais infra, seja atenuada.
    Como ratifica a Ana, nós somos "os reis em leis", políticas temos, faltam os políticos querer aplicar.


    Não dá para cansar, Orua.

    Outro dia recebi um e-mail de uma (uma!) estudante universitária de primeiro semestre, estupefata com as informações recebidas. Ela declarava: ISTO TEM DE SER DIVULGADO NAS UNIVERSIDADES, QUE SÓ ENSINAM O GENÉRICO.

    Aí, renovo minhas energias. São essas ilhas que poderão fazer a difgerença. Temos de apostar. Temos de munir de informações, sempre e sempre, de novo.

    Abraços!
    .

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