Camargo Correa precisa aprender como lidar com trabalhadores - Começa a cair o pano |
Jirau - Começa a cair o pano da "boazinha" Camargo Correa - Motivos e reivindicações vão para comissão, diz sindicato em nota oficial
Por Marise Jalowitzki
Quando os holofotes da mídia nacional e internacional começam a cair sobre os fatos verdadeiros, não há mais como fazer de conta. Durante todo este tempo, a Camargo Correa (Consórcio Energia Sustentável do Brasil) posou de "boazinha", "refutando a ação dos vândalos", classificando o episódio que iniciou em 15 de março como algo que não representa o ambiente de trabalho do canteiro de obras e enaltecendo as condições oferecidas. A empresa tentou, durante os últimos dias, convencer de que não tinha nenhum conhecimento dos possíveis motivos.
Vencendo há décadas as licitações governamentais, a Camargo Corrêa e a Odebrecht, sempre em novos consórcios, ainda não aprenderam a lidar com os trabalhadores de forma digna. Condições de trabalho insatisfatórias. situações de conflito resolvidos na base de sorteio de brindes e shows ou através da intervenção militar, a empresa conta ainda com a supervisão constante de seus "comissários", como são chamados os supervisores que, conforme declarações de trabalhadores, são verdadeiros feitores de escravos.
Aos poucos, as notícias dão conta de que a situação dos trabalhadores na Hidrelétrica em Jirau vai receber as providências cabíveis para uma vida laboral digna. Não pode cair no esquecimento, pois aí é que mora o perigo. Afastam-se os holofotes, volta tudo ao que sempre foi. Agora, fala-se em reconstrução, pagamento das remunerações em atraso, possibilidade de recontratação dos milhares de demitidos, melhoria das condições de trabalho. Temos de continuar acompanhando.
Aos poucos, as notícias dão conta de que a situação dos trabalhadores na Hidrelétrica em Jirau vai receber as providências cabíveis para uma vida laboral digna. Não pode cair no esquecimento, pois aí é que mora o perigo. Afastam-se os holofotes, volta tudo ao que sempre foi. Agora, fala-se em reconstrução, pagamento das remunerações em atraso, possibilidade de recontratação dos milhares de demitidos, melhoria das condições de trabalho. Temos de continuar acompanhando.
Só não se falou ainda em reciclar todos os "comissários", para que aprendam que não são feitores de escravos nem capitães-da-mata.
Jirau - trabalhadores vivem situação crítica |
Muitos são os motivos dos conflitos, a serem analisados pela comissão, a fim de que os trabalhadores possam ter uma vida laboral digna nas UHE:
- no canteiro de obras, o tratamento é de feitor-escravo. Trabalhadores são tratados como "filho-da-p..." e a arrogância dos "comissários" (como são chamados os supervisores) é constante
- o ambiente é tenso, o trabalho, sob o sol escaldante, duro
- uma hora para almoço, sendo 20 minutos despendidos para percorrer o trajeto da obra até o refeitório
- milhares de trabalhadores, vindos de outras cidades e estados, permanecem 4 meses em mesmo ambiente (canteiro de obras e alojamento), quando recebem liberação para rever a família (para os casados o prazo é de 3 em 3 meses)
- os constantes desmaios dos barrageiros que ocorrem devido ao calor dentro do "buraco" cavado para receber as águas da barragem são desconsiderados pelos "comissários"
- os atendimentos clínicos aos que se sentem mal são vistos pelos "comissários" como "falta de vontade para trabalhar"
- empresas terceirizadas recebem mais do que os trabalhadores contratados
- horas extras estão com o pagamento atrasado
- Big card (cartão) fornecido como "bônus" para lazer e entretenimento, é mensal e tem o valor de R$ 120,00 - "O que se faz com 120,00 em Porto Velho, nos finais de semana, em um mês?"
- alojamentos sem ar condicionado
- trabalho duro o dia todo, sem relaxar a cabeça à noite, aliado ao tratamento arrogante dos "comissários" gera clima permanente de tensão. As brigas, verbais ou físicas, são constantes.
- há denúncias de que o treinamento é inexistente ou ineficaz, em muitos casos, o que, aliado ao calor, provoca muitos acidentes, inclusive graves e com mortes
- há denúncias de que os acidentes com morte são ocultados, para não chamar a atenção da mídia
- o despejo de famílias, a recolocação dos ribeirinhos em local novo, porém desprovido de segurança e de atendimento da saúde (há somente um posto do SUS para atender a toda a comunidade, que fecha às 17h e não abre aos finais de semana), aliam-se aos problemas enfrentados pelos povos indígenas e garimpeiros.
As paralisações são constantes. Como não há uma liderança formal, os movimentos recebem voz do judiciário para que acabem e a situação permanece. Os responsáveis pelas manifestações são demitidos.
Jirau e Santo Antonio, em Rondonia, tomam o lugar da floresta |
Em Nota Oficial nesta data (18.março.2011) a Direção Nacional da Força Sindical declara a criação de uma comissão para apurar os fatos. "Esta comissão deverá ser constituída por representantes do Ministério Público do Trabalho, do Ministério do Trabalho e Emprego, das Centrais Sindicais e dos sindicatos." - diz a nota.
"Não podemos permitir que trabalhadores vivam, ainda, em situação análoga à escravidão no País. O comportamento das empresas só resulta em prejuízos para o andamento das obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e para a imagem do País no exterior, visto que a Usina de Jirau é a maior obra em andamento no Brasil.
Os trabalhadores anseiam também pela abertura de negociação e uma mesa de debates sobre as legítimas reivindicações, visto que os fatos acumulados como atrasos nos pagamentos das empresas terceirizadas, maus tratos e não pagamento de horas-extras, geraram os transtornos nas obras."
(Link: http://www.rondoniadinamica.com/arquivo/nota-oficial-da-forca-sindical-sobre-protesto-na-usina-de-jirau,24074.shtml)
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Por medida de segurança, a usina Hidrelétrica de Santo Antonio que, juntamente com Jirau forma o Complexo Hidrelétrico do Rio Madeira, também paralisou suas obras até que a situação volte à normalidade.
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C/cópia ao Le Monde
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Vários artigos sobre a construção das Hidrelétricas de Jirau e Santo Antonio, no Complexo do Rio Madeira - Rondônia - LinK neste blog: http://ning.it/gFqh42
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Marise Jalowitzki Compromisso Consciente |
Escritora, pós-graduação em RH pela FGV, international speaker pelo IFTDO-EUA
Porto Alegre - RS - Brasil
Infelizmente, me parece que as classes pensantes, estão reféns dos que proliferaram dentro da ignorância cultivada por políticos mal intencionados e alicerçados no capital de empresários ultra desonestos que hoje formam familias ultra abastadas. Amanhã...o tempo dirá que este planêta não só pertence aos seres humanos mas também, à todos os seres vivos que aqui se encontram. E nos remanescentes das tragédias já eminentes, a certeza que perderam por não se preocuparem com a harmonia entre tudo que existe, existiu e existirá.
ResponderExcluirAbraços Verdes!
No caso de Jirau e Santo Antonio, esperanças renovadas na adaptação digna das relações, pelas implicações internacionais. Vamos ver.
ResponderExcluirEm outros casos, como na relação Japão-EUA, lição difícil! EUA rebenta com Japão, Japão também fez das suas no passado (até mesmo contra a China), agora precisa pedir ajuda aos EUA! EUA que sabia, desde 2002, que poderia acontecer o que aconteceu!!! Revisão no orgulho, desafio.
A importância dos governos pode selar o destino da população que, as mais das vezes, está alienada do processo.
Abraços sempre Verdes, também!
É...onde existia o equilíbrio natural da floresta,com sua fauna e flora perfeitas, hoje existe os conflitos entre aqueles que a destruíram e continuam a destruí-la.
ResponderExcluirE para os que reclamam que são mal pagos para fazer isso, enfrentam a...
http://www.youtube.com/watch?v=R4VkpSyjD9Q&NR=1
http://www.ariquemesonline.com.br/noticias.asp?codigo=19680
Fui ver os videos - vários deles. Impressionante como a "grande" midia não relata isso! Os esforços dos jornais e canais locais, mais os videos, nada aparece. Mesmo o fogo nos ônibus, não foi a primeira vez que aconteceu no Rio Madeira.
ResponderExcluirBem, agora chamou a atenção nacional. Importante o manifesto que as sindicais vão realizar em São Paulo.
Importante, também, não "esquecer" como é do gosto do brasileiro.
Profissões como essas são de "comer fogo" mesmo. Deveriam ter tratamento muito mais digno, pelo esforço que despendem.
Podemos acreditar que, nessa, ajudamos um pouco, não é mesmo, Amigo?
Abraços Verdes e Azuis!