quinta-feira, 17 de março de 2011

Fatos que contribuíram para o conflito na Hidrelétrica de Jirau, em Rondônia

Conflito em Jirau teve 48 ônibus queimados

Fatos que contribuíram para o conflito na Hidrelétrica de Jirau, em Rondônia
Parte 3

Por Marise Jalowitzki
17.março.2011
http://t.co/GpeAinX


De uma forma até mesmo simplista, a violenta manifestação promovida no canteiro de obras da Camargo Correia, na Hidrelétrica de Jirau, em Rondonia, vem sendo divulgada como se fosse um movimento do qual a empresa não tinha nenhum conhecimento dos possíveis motivos.

Nada que justifique a agressão pesada, mas são muitos os motivos que levam aos confrontos e tumultos, desde 2009:

- no canteiro de obras, o tratamento é de feitor-escravo. Trabalhadores são tratados como "filho-da-p..." e a arrogância dos "comissários" (como são chamados os supervisores) é constante

- o ambiente tenso

- milhares de trabalhadores, vindos de outras cidades e estados, permanecem 4 meses em mesmo ambiente (canteiro de obras e alojamento), quando recebem liberação para rever a família (para os casados o prazo é de 3 em 3 meses)

- os constantes desmaios dos barrageiros que ocorrem devido ao calor dentro do "buraco" cavado para receber as águas da barragem são desconsiderados pelos "comissários" 

- os atendimentos clínicos aos que se sentem mal são vistos pelos "comissários" como "falta de vontade para trabalhar"

- empresas terceirizadas recebem mais do que os trabalhadores contratados

- horas extras estão com o pagamento atrasado

- Big card (cartão tipo vale refeição) fornecido como "bônus" para lazer e entretenimento, é mensal e tem o valor de R$ 120,00 - "O que se faz com 120,00 em Porto Velho, nos finais de semana, em um mês?"

- alojamentos sem ar condicionado

- trabalho duro o dia todo, sem relaxar a cabeça à noite (há sala com TV), aliado ao tratamento arrogante dos "comissários" gera clima permanente de tensão. As brigas, verbais ou físicas, são constantes.

- há denúncias de que o treinamento é inexistente ou ineficaz, em muitos casos, o que, aliado ao calor, provoca muitos acidentes, inclusive graves e com mortes

- há denúncias de que os acidentes com morte são ocultados, para não chamar a atenção da mídia

- o despejo de famílias, a recolocação dos ribeirinhos em local novo, porém desprovido de segurança e de atendimento da saúde (há somente um posto do SUS para atender a toda a comunidade, que fecha às 17h e não abre aos finais de semana), aliam-se aos problemas enfrentados pelos povos indígenas e garimpeiros. 

As paralisações são constantes. Embora a empresa faça questão de não assumir. A última, anterior ao conflito, foi em janeiro.2011, durou 6 dias, com o bloqueamento da entrada da usina. A empresa argumentou falta de alimento e água para os que permaneceram dentro do canteiro, a juíza mandou suspender a paralisação e os trabalhadores concordaram. Como não há uma liderança formal, os movimentos recebem voz do judiciário para que acabem e a situação permanece como está. Os responsáveis pelas manifestações são demitidos.

UHE Jirau - Conflitos e desentendimentos estão acontecendo desde 2009


O que vem sendo divulgado

"Briga provoca incêndio em canteiro de obras da Usina de Jirau

Segundo a Secretaria de Segurança de Rondônia, 45 ônibus, muitos carros particulares, área de lazer, refeitório, lavanderia e metade dos alojamentos dos funcionários foram atingidos pelo fogo. Também houve saques na lanchonete, em uma loja da Oi (ou Vivo) e em caixas eletrônicos instalados dentro do canteiro.
O protesto contou com a participação de milhares de operários (há um total de 20 mil empregados, atualmente). De acordo com o comando da Polícia Militar, integrantes da Tropa de Choque de diversos batalhões de Porto Velho foram chamados para conter a manifestação.
A revolta começou por volta das 17h de ontem e só foi controlada durante a madrugada desta quarta (16), com a chegada de uma companhia especial de operações da Polícia Militar.
Segundo o governo estadual, a obra, que integra o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), do governo federal, teve que ser paralisada durante a briga e ainda apresentava problemas na manhã desta quarta-feira.


Camargo Correa - Consórcio Energia Sustentável do Brasil - UHE de Jirau e conflitos


O consórcio Energia Sustentável do Brasil, responsável pela obra, afirmou que a obra voltou a funcionar normalmente depois da intervenção da PM, mas apenas "alguns setores" da construção civil ainda não haviam sido totalmente restabelecidos.
De acordo com o consórcio, a briga foi uma "manifestação isolada" e um "ato de vandalismo", e que não havia nem lideranças nem reivindicações por parte dos trabalhadores. Ainda não há informações claras sobre os motivos do conflito."

Manifestantes prometeram continuidade do confronto na noite de 17.março.2011.

Polícia permanece no local para garantir a tranquilidade.
O secretário da Segurança, Defesa e Cidadania de Rondônia, Marcelo Nascimento Bessa, esteve no local e deve pedir a intervenção da Força Nacional até que a situação na usina seja normalizada.
construtora Camargo Correa, para a qual os trabalhadores prestam serviços, informou que, apesar da ameaça de greve por reajuste salarial e de benefícios, nenhuma reivindicação teria sido entregue oficialmente à empresa que reitera que está prestando todo o apoio às investigações para esclarecer a origem da ocorrência, com a punição dos responsáveis. 


UHE Jirau - Canteiro de obras ficou destroçado

Um dia após o tumulto, de acordo com declarações de empregados que não quiseram se identificar, o refeitório foi destruído e mais de 10.000 mil homens estão sem comida na zona de conflito.
Até agora (16), as equipes de apoio da usina não conseguiram apagar os inúmeros focos de incêndio que ainda subsistem aos jatos d´água dos caminhões pipas.


Situação

Quem lê este blog sabe que sou contra a implantação das hidrelétricas, pelo que de desmatamento e degradação florestal proporcionam. Uma vez em curso o processo, há que se garantir o cumprimento integral de todas as condicionantes, coisa que as grandes empreiteiras parecem querer empurrar com a barriga a qualquer custo.


A liberação para construção da UHE em Jirau, próximo a Porto Velho, capital em Rondônia, foi tumultuada, como costuma acontecer em todas as obras que envolvam desapropriação e indenização, cuidado com o meio ambiente e cumprimento das cláusulas contratuais.


A UHE de Jirau, no Rio Madeira, abriga 20 mil funcionários e é a maior obra em construção atualmente no país.


Desapropriação de áreas indígenas


A empresa já está há 4 anos na região. As condicionantes que previam compensação aos povos indígenas ainda não foram cumpridas.


Em outubro de 2010, a empresa Camargo Corrêa (Consórcio Energia Sustentável do Brasil) afirma que as compensações para os indígenas ainda não aconteceram, mas que há um plano de trabalho, que inclui ações de proteção ao território. Este plano de trabalho já foi aprovado pela Funai (Fundação Nacional do Índio) e sua aplicação "depende apenas de trâmites burocráticos".



Mais fatos que contribuíram para o conflito
"A briga foi só o estopim!" - declaram trabalhadores que não querem se identificar.


Saúde - Atendimento Médico

Único posto do SUS fecha às 17 horas e não abre aos finais de semana. O caso já foi noticiado em vários sites e jornais.
Acidente grave envolvendo rapaz -

Veja video e reportagem publicada em 10.janeiro.2011: Comunidade relata abandono nos postos de saúde e precariedade na segurança pública em Nova-Mutum - 


Segundo os operários que não quiseram se identificar, mais de 250 funcionário deixaram de trabalhar no último dia 09.março.2011, por questões de saúde.


Surto de Malária

Na manhã da quarta-feira (16) operários do canteiro de obras da usina de Jirau, informaram por telefone a existência de um surto de malária, sem o devido tratamento.

Demissões em massa
Há denúncias de demissão de mais de 4.500 funcionários.  


UHE Jirau - Funcionários correm para sair do local do conflito


UHE Jirau - Após o conflito e divulgação do surto de malária, muitos trabalhadores estão indo embora, mesmo sem ter acertado sua saída da empresa

PAZ PARA TODOS!

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Leia também:
Clima de tensão na Hidrelétrica de Jirau - http://compromissoconsciente.blogspot.com/2011/03/clima-de-tensao-na-hidreletrica-de.html 
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Marise Jalowitzki
Compromisso Consciente




Escritora, pós-graduação em RH pela FGV, international speaker pelo IFTDO-EUA
Porto Alegre - RS - Brasil









 

4 comentários:

  1. Conheço bem essa situação, realmente a Camargo Corrêa trata seus colaboradores de forma cruel e deshumana, aconteceu a mesma coisa na obra de Barro-Alto só que não foi divulgado pela empresa.

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  2. tudo que aconteceu no girau era previsto
    decho um alerta para todos trabalhadores
    nao va para o girau
    camargo correia esta recrutando trabalhadores em parauapebas PÁ prometendo um bom salario mas
    quando chega la acoisa e diferente eles nao pagam a metade do que foi acertado acim forcao o trabalhador a ficar

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  3. eu e mas 45 pessoas foram recrutado pela camargo correia em parauapebas PA sou mecanico industriau.III me prometeram um salario de $9.50 a hora mas 25% porcdento mas ajuda de custo
    chegando la a coisa foi deferente
    fisemos o teste pratico e determinaram o salario de$5.18 a hora
    muito obrigado por nao ir para o ngirau atenciosamenteD8

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  4. Anonimo(s)!
    Muito grata por comparecer e deixar depoimentos tão importantes, que só reforçam a realidade.
    Eu, daqui, só posso repudiar tudo o que está acontecendo!
    Divulgar e tentar encaminhar para o maior número possível de pessoas no poder. Depois, é com eles.
    Tenho poucas esperanças, pois o poder maior está nas mãos de quem quer a Usina, e quer já! A mesma pressa que o ex presidente também tinha.
    Mesmo assim, é bom que inclusive os órgão internacionais saibam do que está acontecendo.

    Vou encaminhar, também, para Maria do Rosário, dos Direitos Humanos!
    O povo não pode continuar sendo apenas massa de manobra!
    Abraços

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