sábado, 9 de abril de 2011

Atirador do Realengo - Um aluno invisível, um cidadão que não complicava - Você tem um desses aí em sua casa?

Rio - Atirador do Realengo - Um aluno invisível

Atirador do Realengo - Um aluno invisível, um cidadão que não complicava - Você tem um desses aí em sua casa? 

Por Marise Jalowitzki
09.abril.2011
http://t.co/9q2XqZx

Todas as coisas que acontecem, inquietantes, trágicas ou não, devem servir para que se exercite um pouco mais a arte de evoluir como seres humanos. Cheios de falhas e contradições, podemos nos espelhar em acontecimentos para aprimorar nossa maneira de ser.

Até mesmo em tragédias como essa que abalou, mais uma vez, o Rio de Janeiro e o Brasil. E virou manchete internacional.

Muitas vezes ouvi, ao longo de minha existência, expressões do tipo:
- Meu filho nunca deu trabalho!
- Ele não tem boca prá nada!
- 'Tá sempre quietinho, com as coisinhas dele, não incomoda ninguém!

Wellington era um "quatro olho". Essa expressão permeava fortemente os bancos escolares. Ainda hoje, quem usa óculos se sente mal, evita ao máximo.

Nada diminui a dor dos parentes que perderam seus entes queridos.
Nada justifica o que aconteceu e a decisão enlouquecida de consolidar um crime assim premeditado.

O que intenciono é que cada um de nós olhe para os adolescentes que tem em casa, que estão sempre quietos, que não se colocam nas conversas, que possuem um outro ritmo, provavelmente mais devagar para se posicionar e, quase, sempre, passam "batido" nas conversas familiares. reações estranhas, desejos estranhos, declarações estranhas. Atração por cenas de violência nos filmes, jogos mortais sem limite.

Muitas vezes já ouvi pais declarar:
"Pelo menos tá em frente à tv!"
"Pelo menos está em frente ao computador! melhor que estar na rua!"

Sei, também, de mães que não conseguem conviver com a situação de alheamento de seus filhos e, considerando a sugestão de levar seu jovenzinho para tratamento psicológico, em alguns meses, ostentam um zumbi, efeito de medicação pesada de psiquiatra.

É difícil ter uma conclusão sobre o que quer que seja, mas, pelo menos, temos de aguçar nossa atenção para aqueles com os quais temos contato. Tentar retirá-los do ostracismo, da inércia, do silêncio exagerado. Levá-los a programas grupais, respeitar seu estilo, sim, mas, nunca deixá-los fechar a porta para o mundo, mesmo assim imperfeito, que cerca a todos nós.

O estudante

Sempre isolado, de cabeça baixa, evitando falar com os colegas de turma, sem participar dos jogos e  brincadeiras. Esse foi o aluno Wellington Menezes de Oliveira, durante o tempo em que foi estudante na Escola Municipal Tasso da Silveira. A descrição é do diretor Luís Marduk, 55 anos.

"Ele era um aluno 'invisível'. Não chamava atenção e passava despercebido entre os colegas e professores. Era um aluno pouco notado, tanto para positivo quanto para o negativo. Nunca teve comportamento que saísse do normal. Nada que merecesse algum tipo de tratamento, de estratégia na questão de comportamento." declarava o diretor Marduk.

Não fosse o terrível desfecho, que redundou em 12 mortes (até agora) e 18 feridos, e a própria morte do atirador, as pessoas iriam dizer:
"-Que bom, né? Não deu nenhum trabalho para os professores! E, ainda por cima, passava de ano!"

Um ex-colega de turma, o carregador Jorge dos Santos, 25 anos, diz que Wellington era um aluno inteligente. "Ele nunca tinha dúvida de nada. Passava de ano sem dificuldade."

Fábio dos Santos, office-boy de 27 anos, lembra que Wellington sempre se recusava a jogar futebol com os garotos da escola. "Ele só tocava na bola quando ela caia no quintal da casa dele. Ficava na calçada de casa só assistindo o jogo no campo que ficava perto do colégio."


O adulto
Os vizinhos já estavam acostumados com o jeito quieto e cabisbaixo do atirador. Hoje, parecem não acreditar na brutalidade cometida por Wellington contra crianças e adolescentes.

"Ele nunca foi violento, não fazia arruaça, não atirava pedras e não brigava na rua. Era simplesmente quieto e a gente respeitava o jeito dele de ser. O Wellington passava a maior parte do tempo no quarto, em frente ao computador. Estou chocada", disse Edna de Lira Ferreira, 55 anos, dona de casa e vizinha do atirador.

Wellington morava sozinho e tinha um cachorro e um gato.
"A gente passava na rua e ele baixava a cabeça, não cumprimentava. Apesar de ser antissocial, ele nunca demonstrou violência", afirmou Elma Pedrosa, 50 anos, babá.

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Se você tiver perto de você alguém que fala "pelos cotovelos", que expressa o que sente, que, por vezes, até o impacienta com seus comentários frequentes, festeje isso. Você, pelo menos, sabe um tanto do que se passa na cabeça dele(a).

Silêncio demais, contante, em uma cabeça em formação, deve preocupar, sim. O pensamento é livre e pode arquitetar o que quiser.
Em conversas, em trocas simples de diálogos banais, pode-se passar o que seja coerência, justiça, medidas.
Há que se investir cada vez mais nos diálogos.

Águas paradas são profundas.

Ninguém está antevendo alguma desgraça. Estamos falando em semear felicidade, mais bem estar, mais auto estima, mais harmonia, auto aceitação, estar de bem com a Vida. Essas coisas.

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Por Marise Jalowitzki
09.abril.2011
Link: http://t.co/k0z9pC2

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2 comentários:

  1. Marise,
    Olhando por esse ponto de vista eu me lembro do filme "Um dia de furia". Isso também nos faz pensar no quanto a nossa sociedade tem se desenvolvido de uma forma errada em que a gente precisa às vezes até gritar para ser notado. O amor, o companheirismo,a solidariedade, são valores esquecidos nesta sociedade excludente onde a gente tem que "ganhar no grito". Fui professora durante muitos anos e vi pessoas que precisavam de um chamado um incentivo para se pronunciarem. Esse isolamento, como uma reação ao sistema não significa adaptação ou concordância, e muito menos felicidade.
    Abraços

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  2. Exatamente.
    É disso que quero falar, Amiga!
    É desse "deixa-estar" que, parece, já virou rotina!

    No programa global desta noite apresentaram VÁRIOS jovens, ex colegas do atirador, que confirmaram, em detalhes, até fortes e sórdidos, o quanto buliram com o guri, por anos.
    Nos papéis que deixou escrito, em repetidos e repetidos trechos, falava de como não era compreendido pela família.

    Volto a dizer: NADA justifica o condenável ato que ele perpetrou, a não ser a loucura. Mas, que devemos prestar mais atenção em como agimos (nós e os nossos)isso, devemos. E coibir o bulling, a "pegação no pé", sempre!

    Eu já lidei com isso em consultoria grupal. Tive um caso de um "quietinho" que se suicidou.
    Como dizer que nada é nada?

    Cada tijolinho forma o mosaico, sim!

    Abraços, Ana Rosa.

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