domingo, 7 de novembro de 2010

Empréstimos e Doações - Quem Ganha? - Minha Casa, Minha Vida


Empréstimos e Doações - Quem Ganha? - Minha Casa, Minha Vida - Porque não sou adepta ao Programa
Marise Jalowitzki


Já houve um tempo em que o governo investiu muito em habitações para a população de baixa renda.

Pela década de 80, aqui em Porto Alegre, há trinta anos, portanto, aconteceram mega inaugurações de casas e apartamentos financiados (via CEF, FGTS e grupos, entre eles, Silvio Santos - Incorporadora Guerino); também as chamadas "casas populares" e prédios bem standart (via CEF, FGTS e COHAB).

Bairros e bairros pipocaram nas periferias, com casas populares e edifícios de apartamentos miúdos. As pessoas diziam "são feitos de papel", tão fininhas as paredes. O financiamento, até 25 anos.

Os moradores contemplados entravam lá. Ok, agora tinham um teto para se abrigar. Mas, não tinham móveis, não tinham com que pagar água, luz, primeiro a ligação de água e luz, nem alimento. E emprego, "de verdade"? Sim, pois inúmeros casos foram acertados em declarações de contadores (em um país sem fiscalização, sempre há o "jeitinho").

O que faziam nos tempos de frio? Rebentavam as portas e janelas, faziam "um foguinho" para se aquecer e, no outro dia, saíam a procurar compradores para suas aquisições.

Contratos de gaveta, ou "um dinheirinho por fora" e pronto. Íam procurar novos rumos. Há outros vários exemplos. Pouco mudou de 10 anos para cá. Desapropriam-se espaços, desativam-se moradias. Dali um tempo, volta tudo.


Programa Minha Casa, Minha Vida

Agora, o must é o programa Minha Casa Minha Vida. A figura da "Mãe" e novos macro investimentos em concreto, cimento e argamassa.

Porque não sou adepta do programa Minha Casa Minha Vida, do jeito como vem sendo implantado. Principalmente pelas questões ambientais. Com tantos projetos sustentáveis, a baixo custo, porque continuar estimulando a indústria do concreto, da argamassa, do cimento? Poluidores em potencial? E os milhões de imóveis usados que esperam por melhores políticas de incentivo para serem adquiridos pela população trabalhadora?

Além da própria questão 'geográfica", digamos assim, de programas desta natureza. Os filmes bastante semelhantes, anteriormente implantados, não erradicaram a miséria e, também, se propunham a isto.  Distantes das atividades e locais de trabalho, transporte escasso, infra estrutura frágil.



Minha Casa, Minha Vida (3 a 6 salários mínimos, 20% da renda como prestação, 30 anos para pagar), estimula empréstimos bancários (CEF) para compra de construções novas, especialmente construídas para este fim, sempre nos arredores, nos bairros mais distantes.


Quem ganha

Principalmente, os empreiteiros, as construtoras, os políticos. Cimento, argamassa, concreto, tudo novo. E poluidor. Para que as empreiteiras perpetuem sua liquidez protegida e garantida. Os políticos continuem com o aval de seus cargos e o planeta receba mais e mais poluição.

Além do que, pela distância com os pontos de emprego do mutuário, caso não haja incentivos conjuntos em relação ao transporte, as despesas permanecem em alta. Isto já se acompanhou em tantos outros programas.


O que um catador de lixo, por exemplo, vai fazer, morando em um bairro distante? Vai acontecer como sempre, a médio e curto prazo as pessoas dão um jeito de vender as suas casas e voltam para o centro ou bairros mais populosos, ocupando praças e viadutos, sendo alvo para os profissionais de tiro. A reciclagem, em um mundo cada vez mais sujo e descartável, é a "grande profissão emergente"... (Ainda faltam programas para muni-los de luvas, botas e avental para proteção.)

Agora temos Bolsa Família. Torço mesmo para que as coisas deem certo, que, ao mesmo tempo em que se construam as casas em locais distantes, também se acerte na questão de transporte, de infra estrutura, de empregabilidade, de profissionalização, sem falar em saúde e educação.

Taco a taco o endividamento aumentando a passos largos. O mais novo empréstimo do Bird (Banco Mundial) para o programa Bolsa Família, de R$ 343,8 milhões, começará a ser pago pelo Brasil só em 2015, tendo 30 anos para pagar...

Desde minha juventude sei que o terreno mais fértil para se plantar novas idéias são as crianças e os jovens. Novas idéias, em mentes"maduras, são muito mais difíceis de brotar e crescer.

A prova, estamos convivendo com ela. As cabeças que decidem os rumos de nosso país estão simplesmente direcionadas para ações conhecidas, parece pouco adiantar a tentativa de acenos com o novo. E os jovens de minha geração, assim como eu, já estão velhos (ou quase velhos, por mais que não aceitem). E viciados em velhos conceitos. E acomodados. Preguiçosos, mesmo, para mudar. E, às crianças de hoje, aos jovens de hoje, será que a eles restará tempo para efetuar a Mudança Necessária?



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Referências:

Construtoras doaram dinheiro a 54% dos congressistas eleitos -
http://noticias.terra.com.br/brasil/noticias/0,,OI4778113-EI7896,00-Construtoras+doaram+dinheiro+a+dos+congressistas+eleitos.html

Governo consegue empréstimo de R$ 343,8 milhões para o Bolsa Família -
http://noticias.r7.com/economia/noticias/brasil-consegue-emprestimo-internacional-de-r-343-8-milhoes-para-o-bolsa-familia-20100917.html

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5 comentários:

  1. Lamentavelmente tenho que concordar em gênero, número e grau contigo. Enquanto os programas e os projetos não forem criados pensando-se efetivamente para quem eles são destinados continuaremos abastecendo os bolsos dos grandes conglomerados, transoformando os recursos investidos em ativos para a ampliação da força sobre a massa. Números lindos que vão parar na imprensa! Tem-se a sensação de que algo foi feito, mas o problema continua lá, agigantando-se por baixo do tapete.
    Leio quase todos os teus post e fico feliz com a tua produção, porque ela estimulado que as pessoas pensem sobre tudo o que acontece em nosso país.
    Abraço

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  2. Receba minha gratidão e apreço, Amigo!
    Fica sempre feliz!

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  3. Boa tarde, dona Marise. Perdoe-me por discordar de vc, mas preciso pontuar que programas de habitação não são coisas desprezíveis. É mais do que necessário. Agora concordo quando diz que aliado a isso, devem vir outras políticas públicas, como a de transporte no mínimo. Também a questão ambiental que é desprezada pela maioria em todos os setores, não sendo exclusividade do ramo habitacional.

    Mas vejamos, o "Minha Casa..." hoje tem critérios bem diferentes de programas usados anteriormente. Há uma renda mínima a ser comprovada, uma máxima a ser comprometida, a fim de que haja poder econômico para pelo menos pagar as contas básicas. O financiamento que a sra. critica é feito com juros menores do que os do mercado, especificos para habitação(5%). e pare pra pensar, 25 anos para a compra de uma casa não é um prazo absurdo, pois não estamos falando de pessoas com muito dinheiro e patrimônio, mas de baixa renda, que NUNCA, JAMAIS conseguiriam comprar um imóvel a vista ou em menos tempo. Financiamento é condenável para mim na maioria das suas formas correntes, com juros abusivos e círculo vicioso de endividamento. No entanto a modalidade referida é medida de aquisição de casa, por quem nunca poderia ter antes.
    Bom, pontuando o lado ruim: o programa beneficia as construtoras que enriquecem mais e mais, pois não admite compra de casas usadas, ou de terrenos, e não financia construção (n tenho certeza). Isso deve ser revisto.
    Mas a questão ambiental não serve pra inviabilizar uma política que cumpre nada mais do que está na Constituição e nos tratados de direitos humanos: o direito à moradia.

    O "Minha Casa..." pode ser revisto, bem como o fomento à construção civil ecológica e sustentável. Agora anulá-lo completamente, me parece uma decisão um tanto arbitrária e imponderada.

    Abraços!

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  4. Ops, Esqueci de 2 coisas: Primeiro, a distancia dos locais sendo construidos. Isso parece óbvio pra mim, uma vez que representa a expansão da cidade e a utilização de terras ainda não habitadas, que são mais baratas e demograficamente aceitam um grande numero de moradores.
    A segunda questão é o financiamento do governo. Se ele não fizesse, as construtoras fariam do mesmo jeito com outros bancos que cobrariam 12, até 18% de juros a.a.!! Isso sim, seria abusivo.

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  5. Pery: louvo seu empenho em ler e responder o artigo. Exercitamos nossa cidadania.
    Não sou contra o Programa por si só. Sou contra a maneira como está sendo implantado, sistema que já se mostrou pouco efetivo.
    Coloco isto no texto.
    "Porque não sou adepta do programa Minha Casa, Minha Vida, do jeito como vem sendo implantado. Principalmente pelas questões ambientais. Com tantos projetos sustentáveis, a baixo custo, porque continuar estimulando a indústria do concreto, da argamassa, do cimento? Poluidores em potencial? E os milhões de imóveis usados que esperam por melhores políticas de incentivo para serem adquiridos pela população trabalhadora?"
    Há muitas outras maneiras, sustentáveis, de se contemplar a classe trabalhadora com o direito inaliernável de moradia.
    Também, há outra questão, igualmente importante e também viável:
    Há tanto imóvel usado no Brasil, desocupado, desabitado, sem pagar IPTU, que nem era preciso tantos novos investimentos.
    Convido-o a ler: http://compromissoconsciente.blogspot.com/2010/12/casas-vazias-e-programa-minha-casa.html que trata deste tema.
    Abraços!

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