BRASIL NÃO SERÁ ESTRELA NO G20
Marise Jalowitzki
Marise Jalowitzki
Nosso país chega enfraquecido ao G20. Segundo analistas ouvidos pela BBC Brasil, isto se deve às suas ausências em encontros anteriores, o que causou desconforto para os demais integrantes. Igualmente, a proposta brasileira de "impor multas" aos países que apresentassem manipulações cambiais, não é bem vista.
Segundo os analistas, um dos motivos para o enfraquecimento do Brasil na reunião do G20, que acontece em Seul, foi a ausência de Lula na última reunião de cúpula do grupo, em Toronto, em junho deste ano.
Igualmente, na reunião ministerial preparatória para a cúpula, realizada em outubro em Gyeongju, na Coréia do Sul, deixaram de comparecer Guido Mantega, ministro da Fazenda e o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles.
Ausências foram lidas como um boicote do Brasil ao G20 - Brasil não será "Estrela"
Estas ausências, nas duas reuniões, "foram lidas por muitos como um boicote do Brasil ao G20", declarou John Kirton, professor de ciência política da Universidade de Toronto e diretor do G8 Research Group e do G20 Research Group, que acompanham a atividade dos dois grupos.
"Espero que o Brasil participe da discussão, mas não vejo o país como protagonista", disse o economista Ignacio Angeloni, editor do G20 Monitor, do Instituto de Pesquisas Bruegel, da Bélgica. Apesar de Mantega ter sido a primeira figura internacional de peso a usar o termo, Angeloni também é de parecer que a posição do Brasil na cúpula de Seul está enfraquecida e que o país não deve ser protagonista nas discussões em relação ao principal tema da agenda, a chamada "guerra cambial".
"A ausência de Lula foi a primeira de um líder do G20 a uma cúpula. Se eles não estão lá para colocar a posição brasileira, isso enfraquece a posição do país. Funcionários de baixo escalão não têm a mesma força", afirmou John Kirton para a BBC Brasil.
Os signatários brasileiros tentaram se justificar (veja link ao final deste artigo), mas que não pegou bem, não pegou.
Kirton enfatiza: "Lula não era apenas um líder qualquer do G20, era a estrela do show. Sua ausência foi bastante sentida em Toronto e a desculpa que ele deu foi pouco convincente, assim como foram pouco convincentes as desculpas de Mantega e Meirelles para não irem à reunião ministerial", afirmou ele.
A proposta brasileira
Ao longo dos anos, muitas intervenções do FMI foram alvo de críticas e queixumes de muitos países, inclusive o Brasil. Mesmo com todo o histórico sofrimento, o FMI nunca conseguiu implementar, na prática mecanismos de controle. Agora, a proposta brasileira tenta apontar o mesmo dedo para os países que manipulam o câmbio. .
Para os analistas Kirton e Angeloni, a proposta brasileira, para a criação de um índice do FMI para identificar manipulações cambiais e determinar eventuais punições aos países, tem pouquíssimas chances de ser aprovada durante a cúpula do G20.
Para John Kirton, a aprovação da proposta brasileira significaria colocar o FMI na condição de xerife, "apontando o dedo para os países, com a China na primeira linha de ataque como manipuladora do câmbio.
Isso também obrigaria que o Congresso dos Estados Unidos e o Tesouro americano tivessem que identificar a China como manipuladora do câmbio e tomar medidas retaliatórias, o que eles têm evitado fazer até agora", disse.
Quem, nos dias atuais, com tudo o que está no bojo das considerações do potencial das nações, arriscaria "apontar o dedo" para uma potência como a China? China injeta dinheiro em muitas economias (como o fazem também outras potências); Venezuela de Chavez é uma das nações que recebe este aporte. A estratégia parece uma "jogada" tão evidente que é até ingênua!
As negociações prováveis
A proposta mais sensata e menos polêmica foi a aprovada na reunião ministerial de Gyeongju, a ser referendada pelos líderes nesta semana. "Tal proposta indica faixas apropriadas para superávits e déficits comerciais com processos de discussão caso essas faixas sejam superadas por algum país." - pondera Kirton.
"É uma posição muito diferente de dizer: 'Você é culpado, vou puni-lo'", afirmou. Para John Kirton, que rejeita a expressão "guerra cambial", "a contribuição brasileira foi apenas uma expressão chamativa e apocalíptica, que pegou nas manchetes da mídia, apesar de não descrever a realidade existente ou a que vai emergir (da reunião)".
"Eu diria que o Brasil está em uma posição enfraquecida com Lula de saída e a necessidade do novo governo de se afirmar", afirmou Alan Alexandroff, co-diretor do G20 Research Group, da Universidade de Toronto.
A presidente eleita acompanha a comitiva brasileira.
BRASILEIROS, VAMOS PRATICAR A COERÊNCIA!
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