segunda-feira, 25 de junho de 2012

A Fábula do Cavalo Marinho e os Resultados da Rio + 20

Rio + 20 - Talvez tenhamos que redefinir o que é "Lá"!



A Fábula do Cavalo Marinho e os Resultados da Rio + 20

Por Marise Jalowitzki

Conhecem a fábula do Cavalo Marinho? Ela é mais ou menos assim:
Havia um pequeno cavalo marinho, ávido por mudanças, que nadava sofregamente entre as águas do oceano. Sempre que encontrava algum outro habitante das águas, perguntava: Como faço para chegar ? O interrogado ficava meio confuso, mas, igualmente atarefado, apontava para qualquer direção e desvencilhava-se do perguntador. Assim foi por muitas vezes. O pequeno cavalo marinho nadou, nadou, sempre recebendo de alguém uma informação diferente, fazendo com que rodasse muitas vezes pelos mesmos caminhos, pelos mesmos desvãos, pelos mesmos declives. Até que, ao final, já exausto, deixou-se cair inerte e morto.

Qual a mensagem desta fábula? A de que qualquer um de nós, quando não sabe para onde quer ir, onde quer chegar, como quer chegar, em quanto tempo precisa chegar, acaba não chegando a lugar nenhum!!!
Esforços despendidos, energias desperdiçadas, mas, resultado efetivo, não.
Onde fica o “” de cada um? Das autoridades? Dos governos? Dos países? Das diferentes organizações?



Rio + 20 e o desempenho dos ambientalistas - Protestos populares ou isolados, shows e exposições de artesanato

O Papel das ONGs
Parece que nem mesmo a maioria das ONGs sabe onde quer chegar, o que, exatamente, reivindicar e obter. Protestos são importantes, sim, agora, se não vierem acompanhados de projetos, viram ação ineficaz!

Quem está aproveitando o Ano do Cooperativismo (instituído pela ONU) para se unir com entidades afins e obter incentivos financeiros para colocar a mão na massa?

Vejo as distâncias abissais que nos separam dos resultados que TODOS necessitamos:
- Quando Achim Steiner, do PNUMA, declara que fica satisfeito por ter recebido tão somente a promessa de que a ONU, em setembro, irá avaliar como é que irá ficar a situação do PNUMA e de quanto será o incentivo financeiro que lhe será destinado.
- Quando nossa Ministra do Meio Ambiente recrimina o protesto de uma ambientalista e o argumento mais forte é “em 1992 você nem era nascida” (???), isso é argumento? como se isso fizesse alguma diferença!Quantos milhares já nascidos e em condições de agir, naquela época, nada fizeram (sequer sabem) até agora?
- Quando nossa Presidente declara que a Rio + 20 não é “um ponto de chegada e, sim, um ponto de partida”! Como, ponto de partida e o planeta do jeito que está? Estamos sempre começando de novo, dando sempre de novo o primeiro passo, como se tempo tivéssemos!... Quando será o segundo passo? O terceiro? O quarto? O milésimo? Quando as nações começarão, finalmente, a ver resultados efetivos e não mascarados nas questões cruciais que afetam a todos, especialmente os menos providos?

Claro que conseguir consenso é dificílimo, até pelas características tão egoístas do ser humano, que sempre defende apenas os seus particulares interesses. Mas, porque não houve uma seleção prévia dos temas mais relevantes e discussões anteriores ao mega evento? Claro que a crise econômica mundial interferiu na realização do evento, marcar a mesma data para a reunião do G20 também foi uma bela maneira de desviar as atenções. 

Agora, já não sabemos que algumas coisas precisam ser mudadas? Quem falou em diminuir consumo? Diminuir desperdícios? Projetos conjuntos para reciclagem? Produzir menos high top e mais standard? Menos para as classes mais abastadas e mais para os desprovidos? Este é o caminho! Se ninguém dos que já possuem quer abrir mão de nenhuma de suas benesses, como irá haver uma mudança de hábitos de consumo?

Como na fábula do Cavalo Marinho, onde, apesar de todos os seus esforços, ele não sabia ao certo onde queria chegar, também agora estamos chegando a uma conclusão que Krishnamurti, o sábio líder hindu, já destacava há muito tempo: “Não serão os governos, mas a sociedade civil, que irá implementar as grandes mudanças!” Concordo. Agora, a qual segmento da sociedade civil estaria se referindo o sábio? O das grandes corporações, viciadas em lucro fácil e imediato, ou aqueles[ainda] pequenos grupos emergentes, ávidos por desenvolvimento sustentável (aliado à diminuição do desperdício e melhores condições para todos)?. A solução para melhor, por certo, advém dos modos de viver e encarar a vida destes últimos, mas, onde as ações efetivas? os projetos relevantes para interferir positiva e eficazmente onde realmente é preciso? os subsídios necessários para a implementação eficaz?

O que ainda espero:
- Que a sociedade civil queira menos brilhar individualmente ou em pequenos grupos em eventos gigantescos.
- Que a sociedade civil queira ler mais, conhecer mais e inteirar-se mais com o que acontece por detrás dos bastidores.
- E, mais que tudo, que a sociedade civil tenha a consciência que é através dela, especialmente como consumidores exigentes, que as coisas podem mudar.

De nada adianta ficar economizando uma sacolinha de plástico. Há muito mais para ser feito, arranjar parcerias e modificar hábitos de consumo. Redefinir o que é necessidade e o que é desejo.

Quando, lá nos idos do século passado, surgiu o slogan “Um novo mundo é possível!” – durante o I Fórum Social Mundial (Porto Alegre – RS), parecia que todos sabiam do que se estava falando, comentando e querendo. Hoje já me pergunto: que ‘novo’ mundo será esse? Será que sabemos o que precisa ser feito para se chegar até “Lá”? Talvez tenhamos que redefinir o que é “Lá”!!





Querendo, leia também:
http://www.compromissoconsciente.blogspot.com.br/2012/06/morte-do-lider-karaja-na-rio-20-e-saga.html 
A Morte do Líder Karajá na Rio + 20 e a Saga Indígena



Após a morte do líder Karajá, indígenas cancelaram o show de encerramento na Rio + 20 -  16 etnias abandonam a Kari-Oca Foto Glauco Araujo - G1  

Globo, ao invés de comentar sobre o cancelamento do show de encerramento indígena e a morte do líder Karajá por intoxicação alimentar [concedida pelo homem 'branco'], mostra a Xuxa de cocar!



 "Isto mostra que ainda somos tratados como verdadeiros selvagens, diz o índio Cristiano Santos, da aldeia Pakuru." http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/grupo-de-indios-passa-mal-na-rio-20  )







Marise Jalowitzki
Compromisso Consciente


Escritora, Educadora, Ambientalista,
Coordenadora de Dinâmica de Grupo,
Especialista em Desenvolvimento Humano,
Pós-graduação em RH pela FGV,
International Speaker pelo IFTDO-EUA
Porto Alegre - RS - Brasil 

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