segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

TDAH e Agressividade - 8 Dicas para Lidar com a Agressividade dos pequenos



A birra, a contestação e a agressividade em crianças necessitam ser conduzidas desde cedo, através de uma atitude amorosamente firme dos pais.





Por Marise Jalowitzki
29.dezembro.2014
http://compromissoconsciente.blogspot.com.br/2014/12/tdah-e-agressividade-8-dicas-para-lidar.html

Coerência na atitude dos pais.
Nada de prometer uma coisa e, depois, não conseguir cumprir.
Sejam promessas de carinho e recompensa, sejam ameaças de castigos.


ANTES de pensar em simplesmente medicar seu pequeno agressivo, para que "se aquiete", atente para alguns passos que podem ajudar:

1- Empatia - A sabedoria está em se colocar no lugar do pequeno, procurar perceber COMO ELE (com sua pouca idade) vai entender uma ordem, um olhar, um tom de voz! Um erro bastante comum é o adulto "mostrar a sua diferença" ficando em pé, apontando o dedão e alterando a voz. A criança, se olhar de baixo para cima, vai sempre "imaginar o pior". 

Se a criança baixar a cabeça e apenas se submeter, estará contendo tudo o que pensa, represando seus sentimentos, o que em nada garante que está aceitando; pode, isso sim, guardar ressentimentos que, mais tarde, vão eclodir de uma forma inusitada! 

Se ela for mais destemida e ficar encarando (mesmo com a enorme diferença de tamanho entre o adulto e ela), por certo estará internalizando uma reação de contra ataque O ideal é o adulto ficar na mesma posição da criança, horizontalmente parelho; é uma posição bastante efetiva, equilibra o "olho-a-olho". Os lobos fazem assim quando querem ensinar (ou repreender) um filhote que precisa de uma correção em sua atitude. O lobo-pai deita-se no chão, onde o lobo-filho está todo submisso, emite um som do tipo "Ok, sei que sou o grandão, mas preciso que entendas como as coisas são!"

2 - Atitude Coerente - O adulto, ao chamar a atenção de uma criança ou adolescente, precisa ser firme, sem rudeza; objetivo, de poucas palavras, sem grosseria. Dizer e prometer só o que vai efetivamente, cumprir, seja em recompensas, seja em ameaças. E, mesmo se colocando no lugar do pequeno para poder usar das melhores palavras e ações (exercício da empatia), nunca deixar de ter em mente que ele é o adulto e, portanto, responsável. Assumir seu papel educador. 

Uma atitude ruim é ameaçar, ou até bater e, depois, se arrepender e ficar chorando (como acontece com muitas mães!). Ou ficar gritando, enfurecido e indignado, repetindo xingamentos em voz alta (como acontece com muitos pais e educadores). O equilíbrio terá de ser exercitado sempre. Deixar bem claro, explicar de uma forma suave e, ao mesmo tempo, firme, o que é o certo e o errado para aquele núcleo familiar, por exemplo, desde cedo, tem de vir acompanhado da devida coerência. Não adianta um pai dizer: "- Não grita! Para de gritar!" - se o pai diz isso gritando! Igualam-se em conflito e parecem estar competindo (e estão!)! Só que quem costuma levar a pior quando o pai se desequilibra na raiva, é a criança. Aí começam os ressentimentos e as revoltas. Aprendizado para os pais. Difícil, mas necessário aprender.

3 - Ouvir os sentimentos da criança - Encorajar a criança a dizer o que está sentindo é MUITO importante! Para isso, os pais precisam aprender a ouvir, "permitir" que a criança sinta raiva, entender e aceitar que ela está revoltada (o que não quer dizer que esteja com razão). Deixá-la expressar o que sente, o desconforto, a discordância! Essa discordância pode acontecer até no ventre! Quantas mães possuem a experiência de muitos chutes depois de um dia exaustivo de trabalho, por exemplo! A criança também está cansada, desconfortável e se manifesta! Quando a mãe passa gentilmente a mão na barriga e diz: "Tá ruim aí, né meu querido? Tá desconfortável, né? Sei que está sendo barra pra você também! Logo vamos aquietar!" - o feto relaxa. 

"Poder sentir" que é compreendido em seus sentimentos, receber esta "permissão" materna ou paterna, desde muito cedo, ajuda o pequeno a identificar seus sentimentos, tornando mais fácil atender aos chamados dos genitores.


Qual foi a última vez que você levou seu filhote para um passeio em contato direto com a Natureza?
(Créditos da foto - Alexandre L. Souza)

4 - Evitar a crise de raiva ou birra mudando de cenário - O dia a dia dá condições da mãe ou responsável saber quanto tempo dura uma contrariedade antes de se tornar uma crise. Levar a criança para uma outra atividade, distraí-la do foco que almeja, não é "enganar" a criança. Nem é "perder a autoridade", como algumas mães acreditam. Para aprender o que deve e o que não deve fazer, a criança (e o adulto) precisam estar em condições de ouvir e falar. Depois que as emoções desandaram, ninguém mais assimila nada, nem quem fala, nem quem deveria ouvir! 

A criança pode ser distraída para outra cena sem que isso afete a autoridade materna. Vale levar para olhar janela fora, distrair com um bichinho, levar para dançar. Só não vale deixar fazer o que a mãe julga que precisa ser reprimido naquela hora! 

EVITAR a crise é tudo de bom! Depois que ela acontece, o que existe é um tremendo jogo do poder, que pode redundar até em agressão física. Lembrando: submeter não significa que a criança aprendeu! Ela se submete, mas ninguém sabe o que resultou em seu íntimo! 

5 - Estar atento para o cansaço, a fome ou até a exaustão de uma brincadeira - Neste sentido, o corpo do pequeno é como um reloginho! Quanto mais cansado ou com fome, maior o protesto, a briga, a birra, a manha, o berro. É como se a criança desatinasse! Isso pode acontecer em diferentes horários, mas, quase sempre, acontece antes de dormir. Parece que a criança "briga contra o sono", ou, "bem quando está com fome, acaba não comendo"... Tentar manter uma rotina de horários é bem importante. Não marcar outros compromissos nestes horários. Perto da hora de dormir, música mais tranquila nem sempre funciona. Não ponha nada, então! Agitar o cérebro só vai trazer um sono inquieto. Filmes menos tensos, fala mais branda. E entenda e perdoe, pois é o que queremos, também como adultos, quando temos as nossas crises de mau humor (geralmente maiores depois de um forte stress no trabalho ou trânsito!!).

6 - Dormir sozinho - Uma das maiores dores de cabeça de pais é na hora de dormir. O que fazer quando o filho teima em não dormir sozinho? Os pediatras mais ortodoxos que me perdoem, pois vou falar uma coisa que muitas mães fazem mas que, na hora da consulta, omitem de confessar: deixar o filho dormir com os pais! Pode acontecer, sim, de o filho ter medo de dormir sozinho; pra que deixar se "desmanchar chorando"? São poucas as mães que conseguem deixar isto acontecer. Sempre achei um pecado! Mas elas, por orientação do pediatra, muitas vezes tentam, até que, igual, não aguentam e vão lá pegar o pequeno nos braços. Esta inconstância de atitudes deixa a criança bem confusa! Muita conversa, acertos, contratos (mesmo quando o bebê é pequenininho e se pensa que "não entende nada") é importante criar rituais. A melhor maneira não é deixá-lo chorar até adormecer sozinho, não! Sensação terrível de solidão, isolamento, abandono uma criancinha deve sentir nestes momentos! "Domar" não é ensinar! Este "conselho" de deixar chorar até adormecer tem mais de 40 anos, eu suponho, pois eu já o ouvi na minha experiência de bebê pequeno. 

E, conversando com muitas e muitas mães, seja naquela época e ainda agora, são inúmeros os casos em que os pais permitem o pequeno dormir junto, ao lado, pelo menos até adormecer e, depois, levá-lo para a sua caminha. Nos próximos dias, a mãe fica com ele (ou o pai), até ele adormecer em seu berço-quartinho. Se acorda durante a noite e vem para o quarto dos pais, acolhê-lo naquele momento e, no outro dia, negociar. E ir criando acordos, até conseguir mudar. Com alguns é mais rápido, com outros, não. Com o tempo tudo vai ficando mais natural. A autoconfiança aumenta. Sei mesmo de adolescentes que ainda curtem um ambiente de acampamento e, noutros dias, vão naturalmente dormir em suas camas! 

Em nossa sociedade temos muitas manias de inflexibilidade! Acaso um adulto é "independente" por dormir sozinho? Porque os adultos, quando se casam, dormem juntos, então? Não, não é só por querer fazer sexo. É porque curtem dormir junto a quem amam! Com a criança não é diferente!

7 - Ampliando os acordos para não passar por 'shows' em público - Uma das maneiras que os filhos mais entendem e aceitam é quando recebem "um papel a cumprir", uma tarefa que os comprometa. Assim, a fim de evitar os já conhecidos escândalos em público, é importante conversar antes, explicar onde vão, o que vão fazer, quanto tempo vai demorar (bastante ou pouco), dizer que precisam dele para isso, que a presença é importante, deixá-lo escolher algum produto no supermercado, essas coisas. Tudo dentro de uma listinha previamente acertada. De início ele pode até não aceitar, mas, continuando a repetir, lembrando-o do acordo, a coisa se torna mais conhecida, mais rotineira, com mais chances de dar certo! 

Não adianta deixar a criança escolher o que quiser, encher o carrinho e depois, deixar no caixa! A revolta virá igual. Apenas será postergada! Já ouvi meninos de 7 anos no supermercado dizendo, revoltados: "Não sei porque ainda confio em ti! Tu sempre me deixa escolher, depois não leva igual!" Uma criança adora se sentir importante e necessária. E ser respeitada (nós adultos, também!). Perseverança!

8 - Introduzindo pequenos limites - Vi isso acontecer com todas as crianças com quem tive contato até hoje: minha filha, meus sobrinhos, as crianças de meus amigos, meus netos. 100, 200 vezes dizendo para não botar o dedinho na tomada (mesmo quando colocam aquele adesivo sobre), não quebrar a ponta de uma planta, não pegar as panelas do armário e espalhar tudo pelo chão da cozinha, não esvaziar toda uma gaveta de roupas. A negociação é MUITO importante, sempre! Não vale apenas "esvaziar o ambiente", mudando tudo de lugar, retirando do alcance, apenas para evitar que a criança pegue.  É importante negociar. Com um ano, um pouco mais, o nenê gosta de bater panelas? Destacar uma ou duas, mostrar que as outras, não! Arrumar umas colheres de pau ou de nylon, ir trocando essas, mas dar a noção de limites para o conteúdo total. Fazer a mamadeira e mostrar que está quentinha, que precisa esfriar um pouco mais, ensina a criança a esperar, a não ter sua vontade sempre satisfeita de imediato. O telefone toca e é preciso atender? Tenha já alguma distração para oferecer, para que não fique puxando a roupa ou gritando. 

A criança, na continuidade, vai entender que há situações que se sobrepõem à sua vontade. Quanto mais cedo isto for acontecendo em sua vidinha, mais ele vai assimilando que vida inclui esperar, negociar, colaborar, estabelecer trocas, negociar. Vai frustrar, também, sim, mas o sabor será menos acre. E quando receber os resultados prazerosos anteriormente prometidos, vai sentir que valeu a pena! 

A famosa psicologia comportamental visa tudo isso: munir a criança de ações pessoais que a coloquem em condições de convívio social mais integrativo e ameno. Uma criança que voluntariosamente se opõe ao que os pais querem dela, não deve ser vista como uma criança "má", "teimosa" ou "dominadora", embora tudo isso possa acontecer, na continuidade, se não for direcionado devidamente, quanto mais cedo, melhor. 




 Marise Jalowitzki é educadora, escritora, blogueira e colunista. Palestrante Internacional, certificada pelo IFTDO - Institute of Federations of Training and Development, com sede na Virginia-USA. Especialista em Gestão de Recursos Humanos pela Fundação Getúlio Vargas. Criou e coordenou cursos de Formação de Facilitadores - níveis fundamental e master. Coordenou oficinas em congressos, eventos de desenvolvimento humano em instituições nacionais e internacionais, escolas, empresas, grupos de apoio, instituições hospitalares e religiosas por mais de duas décadas Autora de diversos livros, todos voltados ao desenvolvimento humano saudável. marisejalowitzki@gmail.com 

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