quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Final de Ano Letivo e agora vem o diagnóstico de TDAH e Dislexia?



diagnósticos e intervenções diferentes só confundem ainda mais os pais




Por Marise Jalowitzki
20.novembro.2014
http://compromissoconsciente.blogspot.com.br/2014/11/final-de-ano-letivo-e-agora-vem-o.html

Uma mãe confusa escreve sobre seu filhote de 12 anos, 7ª série.

A escola somente agora, às vésperas de terminar o ano letivo, anuncia que o garoto vai ser reprovado.

"Estou com uma dúvida, queria saber se pode me instruir. Meu filho desde o inicio do ano deu trabalho (falta de concentração) na escola e o mais triste é saber que ele está quase reprovado e só me falaram agora.
Desde então eu mesma resolvi e procurei a escola e pedi pra ele passar pela psicóloga de lá. Dai ela me falou que não tinha nada, pois tinha noção sobre tudo, família por exemplo, mas se eu quisesse fazer um acompanhamento com uma psicopedagoga seria muito bom pra ele, para ajudar no aprendizado que não estava bem; sempre informo que a minha preocupação maior não é tanto em casa e sim na escola. Com essas sessões com a psicopedagoga, primeiro ela falou logo que ele era dislexo, em relação ao comportamento que ela observou nele; dai me encaminhou a um neurologista, que pediu exames como eletro e tomografia de crânio, enfim já começou a tomar a ritalina. Aguardo o retorno,,,abraços"

Tens de pleitear na escola, sim! Não sei como transcorreu todo o ano, como é o sistema de avaliação, se houve reuniões de pais e mestres, se foste nestas reuniões, o que te disseram, etc. - porque, claro, esta é uma situação que se constrói ao longo dos meses e a escola tem a responsabilidade de chamar os pais para conversar sobre os alunos que estão começando a entrar na faixa de alerta, também em questões de comportamento.

A mãe, na tentativa de ele não ser reprovado por insuficiência de notas, buscou aconselhamentos e intervenções junto à orientadora, neuropsicopedagoga, neurologista e tudo o  mais.

A mãe notou que ele ficou ainda mais disperso. Pede sugestão sobre o que fazer.


O que respondi:

Querida Mãe!
Minhas falas são sempre em cima do que conheço por ter vivido (na pele, algumas coisas; na família, outras tantas e saber nos outros) e também sobre o que defendo e sinto!!

Este Grupo (assim como o Livro e o Blog) nasceu em função do excesso de diagnósticos apressados, da medicação "quase instantânea" e da pressa em querer resolver "já" as questões da vida de uma criança, seja esta pressa dos pais, dos professores ou até do próprio especialista ou orientador.

Se teu pimpolho está na 7ª série, com 12 anos, significa que ele entrou aos 6 anos, nunca reprovou! Já passou aquela fase difícil da alfabetização. Pode estar tendo uma dificuldade temporária.

Dizes que o comportamento de dispersão anunciado acontecia somente na escola (desde o início de ano) e não te comentaram nada. Agora, começas a notar que ele está distraindo na hora de realizar os temas de casa.

Já perguntaste a teu menino o que está diferente na vidinha dele? Talvez ele não saiba te responder, mas pode ser tanta coisa! Ele está entrando na puberdade, uma explosão de até 800% de testosterona, situação que nem ele sabe lidar direito. É tudo muito novo! Pode ter até uma gatinha no meio da história. Tanta coisa!

- Pode ser que ele não esteja mesmo conseguindo acompanhar os conteúdos, seja por questão de entendimento ou de chateação com a "chatice" do processo ensino-aprendizagem.
- Podem ser alguns professores com quem ele antipatize.
- Podem ser incompatibilidades com alguns colegas!

Nosso início de diálogo foi sobre a possibilidade de reprovar.
Volto a dizer que terias de conseguir uma acordo com a escola para que ele entrasse em recuperação, reforço, mas não reprovar, já que não te avisaram durante todo o ano.

Com relação aos pareceres médicos (dislexia, tdah, sim ou não) deves estar bem confusa mesmo, já que os especialistas apontam transtornos-doenças diferentes, outro diz que não tem e os exames não apontam nada!

Com relação à ritalina (espero, pelo menos, que seja 10mg), vai monitorando. Ele pode se adaptar, como também pode ficar pior.
É importante lembrar que ritalina, em alguns casos (não todos), faz focar, faz concentrar mais, e por 4 ou 8 horas (dependendo da dosagem).
Se o teu menino está mais disperso ainda, é mais um indicativo de que a medicação é indevida.

Se leste o propósito deste Grupo, sabes que defendo o uso de psicotrópicos em crianças tão somente em casos graves. Tu que tens teu filhote em casa é que podes dizer se o caso dele é efetivamente grave. Todas as indicações apontam que as "anormalidades" devem acontecer em três ambientes: escola, casa e comunidade. Também não parece ser o caso de teu menino.



Quando li, há pouco tempo, quantos especialistas (especialmente internacionais, mas também alguns brasileiros) recomendam que se dê psicotrópicos somente a indivíduos que tenham o cérebro já desenvolvido - e isto só acontece dos 20 aos 30 anos-, mais cuidados ainda tenho em relação aos tarja-preta.

Nos exames que comentaste não vi a menção de ECG (eletrocardiograma) que é apontado como bem importante, pois o farmaco em questão (metilfenidato, ritalina, ritalina la e concerta) pode ocasionar crescimento anormal do coração (podes ver os artigos que publiquei especificamente sobre isso, pareceres e alertas de psiquiatras e neurologistas como, por exemplo, Dr. Fred Baughman, Dr. Allen Frances e outros).

De qualquer maneira, o ano letivo está terminando. As indicações acenam que muitos especialistas receitam a ritalina para o período escolar, com recomendação de pausar nas férias. Como notas que em casa tudo ok, que a reclamação advem da escola, tens tempo para observar mais, ler mais, te informar mais e procurar ouvir outros pareceres abalizados.

Em relação ao convívio familiar, lembra que uma boa conversa, muito carinho, apostar em teu menino, tentar ser o mais possível uma companheira dele, uma mãe-amiga, vai ajudar bastante.

Serena, sei que para um coração de mãe é bem dolorido um filho reprovar, perder os colegas de turma, repetir todo um ano... tenta o acordo, agora, caso acontecer de ele reprovar, procura não "cair de pau" em cima de teu filho, nem culpar a escola por tudo, especialmente na frente dele, pois isto vai deixá-lo confuso em relação a papéis sociais e ele pode ocupar esse fato como escape para problemas futuros.

Por vezes achamos que é tão horrível perder um ano. Pode ser apenas um reforço.

Beijos, querida, fico torcendo pelo melhor, sempre! Luz!
Marise Jalowitzki


Mais sobre o tema, nestes blogs:



 Marise Jalowitzki é educadora, escritora, blogueira e colunista. Palestrante Internacional, certificada pelo IFTDO - Institute of Federations of Training and Development, com sede na Virginia-USA. Especialista em Gestão de Recursos Humanos pela Fundação Getúlio Vargas. Criou e coordenou cursos de Formação de Facilitadores - níveis fundamental e master. Coordenou oficinas em congressos, eventos de desenvolvimento humano em instituições nacionais e internacionais, escolas, empresas, grupos de apoio, instituições hospitalares e religiosas por mais de duas décadas Autora de diversos livros, todos voltados ao desenvolvimento humano saudável. marisejalowitzki@gmail.com 

Livro: TDAH Crianças que desafiam 

Como Lidar com o Déficit de Atenção e a Hiperatividade na Escola e na Família
Contra o uso indiscriminado de metilfenidato - Ritalina, Ritalina LA, Concerta



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