quarta-feira, 18 de julho de 2012

Maturidade - Disseram-se amigas e era roubo

Maturidade - vamos tirar os óculos para não resolver de forma simplista questões delicadas


Maturidade  - Disseram-se amigas e era roubo


Por Marise Jalowitzki
18.julho.2012
http://compromissoconsciente.blogspot.com.br/2012/07/maturidade-disseram-se-amigas-e-era.html


O sorriso largo da velha senhora - 85 anos - ria um riso travesso quando declarou: "Eu tiro os óculos! Sempre fui muito cri-cri para a limpeza, tudo tinha de ser do meu jeito! Agora, dou graças a Deus que tem alguém que faz por mim, não posso mais ficar me atendo a detalhes. Como continuo do mesmo jeito cri-cri, tiro os óculos para não ver os defeitos e estragar tudo. É, a gente vai aprendendo nesta Vida, minha filha!"


Entraram de forma subterfúgica 


A senhora em questão é minha vizinha, exemplo de bem viver, sem efusão, nem querendo provar ser mais jovem (como é o vício atual), continua com seu otimismo discreto. Com certeza, em todas estas décadas, também sob sua ponte passaram muitas águas turvas. 


Os filhos e netos não querem que ela more sozinha. Ela insiste. Eles vem almoçar praticamente todos os dias com ela, visitam-na ou a levam para passear. Totalmente lúcida e forte para a sua idade, a frágil senhora vai em passo tranquilo até o supermercado, faz algumas comprinhas, vai à feira, conversa com as pessoas, sorri. Como nos velhos tempos.


Ela também, infelizmente, chama a atenção dos menos honestos, aqueles que acreditam que a melhoria de suas vidas se dá através da supressão dos bens de outrem. 
Também tem alguns hábitos arraigados. Um deles é sair três vezes ao dia, em horários determinados, para passear com sua cachorrinha, que está cega, também devido à idade avançada. Com isso, já alertou os larápios do bairro. Há duas semanas abriu, inadvertidamente a porta de sua casa para duas mulheres (que se diziam mãe e filha), julgando que era a zeladora do prédio. Como as duas conseguiram entrar no prédio, ninguém sabe, já que a porta é monitorada e só os moradores possuem a chave para abrir somente a quem cada um autorizar.
Enquanto uma pedia água e a conduzia para a cozinha, a outra entrou em seu quarto e acabou encontrando dinheiro, relógio e uma corrente de ouro que guardava na gaveta do criado mudo.


"Eu sabia que estava sendo roubada. Mas, o que poderia fazer? Fiquei pedindo a Deus que não me tirassem a vida, não me machucassem, nem batessem na minha cachorrinha. Depois de tomar a água, a mulher falou alto para a garota: E aí, vai sair do banheiro ou não vai? A outra ainda puxou a descarga, pra fingir que estava no banheiro, e saíram." 


Juntei os dois fatos-relatos para refletir mais sobre a situação. 


Algumas pessoas que souberam do ocorrido, já foram opinando: Essa mulher é um perigo! Os parentes precisam tomar uma providência! Tem de ir para uma casa de repouso. Se não podem ficar com ela em sua casa, tem de internar em um asilo. 


Lapsos, acidentes e incidentes acontecem em todas as idades


Será?
A questão de como conduzir a questão do envelhecimento das pessoas ainda é meio tabu. Enquanto alguns abandonam seus idosos, há os que querem resolver as coisas 'rapidinho'. Claro que esta senhora já é uma exceção em nosso mundo doente. Por isso mesmo há que se enxergar os fatos sob um ótica que vai além do fator idade.


Há alguns anos, conheci uma senhora alta, magra, bonita, gentil, muito frágil, completamente lúcida, também na faixa dos oitenta, internada em uma casa de repouso. Os parentes vinham vê-la em média uma vez por mês e, quando o faziam, ficavam em pé, vendo-a comer a guloseima que lhe traziam (como se fosse uma criança) para, logo após, ir embora. Quadro horrível! Eu ficava, por vezes, conversando um pouco com ela e percebia o quanto estava desalentada. Discorríamos sobre algumas coisas, eu a elogiava, um tanto ela recebia os elogios, conseguia por vezes sorrir timidamente para, ao final, concluir:
- Mas, de que adianta estar viva até agora, se não posso sair, se não estou com os meus, se eles tem vergonha de me ver, se eles não gostam do lugar onde me deixaram?


Eu só lhe dava um abraço silencioso.


Lembrando dessa e de tantas outras coisas, posiciono-me em relação à vizinha. Fico com a opinião de uma Assistente Social amiga: Cada caso é uma caso e precisa ser observado isoladamente, sem comparações ou estatísticas. Claro que todos pensamos na fragilidade. Mas, nesta ocorrência específica do roubo,  situação semelhante também acontece com adultos. É o mesmo que alguém esquecer a chave do carro ao descer em um shopping, não cuidar para que o portão trave ao fechar, deixar a carteira sobre o balcão, ao pagar, deixar a porta mal fechada e colocar o carro em movimento. Não há pais que, até, esquecem os filhos pequenos dentro do carro? O ocorrido com esta senhora deve, ainda, por enquanto, ser encarado como um deslize. Há que se observar se não começa a ficar recorrente. Aí, sim, pode ser indício de que a memória não esteja mais lá essas coisas.


Vamos tirar os óculos?


Para a excessiva severidade.
Para a intolerância.
Para o excesso de julgamento.
Para o costume de resolver de forma simplista questões delicadas.




Observações importantes


Senador Paulo Paim -
Autor do Estatuto do Idoso
"O ESTATUTO DO IDOSO, no Brasil, de iniciativa do Projeto de lei nº 3.561 de 1997 e de autoria do então deputado federal Paulo Paim,[1] foi fruto da organização e mobilização dos aposentados, pensionistas e idosos vinculados à Confederação Brasileira dos Aposentados e Pensionistas (COBAP), resultado de uma grande conquista para a população idosa e para a sociedade."  (Wikipedia)

"A Organização Mundial da Saúde (OMS) classifica cronologicamente como idosos pessoas com mais de 65 anos de idade em países desenvolvidos e com mais de 60 anos em países em desenvolvimento." 
"Para a geriatria, o ramo da medicina que foca o estudo, a prevenção e o tratamento de doenças e da incapacidade em idades avançadas, a pessoa só é considerada de terceira idade após completar 75 anos. Não existe um acordo com relação ao que limita a fase pré e pós-velhice. No Brasil, a expectativa de vida é de 68 anos para homens e 75 anos para mulheres, enquanto a média mundial de expectativa para mulheres é de quatro anos a mais que os homens."
Idoso não significa inválido ou incapacitado.





Quem pode ser considerado idoso?





"Antes de sabermos quem pode ser considerado um idoso, por que não tentarmos imaginar quem é uma pessoa idosa para nós? Bem, não é uma tarefa fácil!"
"Os idosos são aqueles cidadãos que possuem uma bagagem cultural e emocional enorme, que passaram por muitos problemas, criaram suas famílias e hoje muitas vezes, infelizmente, sofrem com a falta de reconhecimento da sociedade, cenário que está tentando ser alterado via Estatuto do IdosoIdosos são aqueles indivíduos considerados de terceira idade e veremos agora que a época em que uma pessoa é considerada integrante desta fase varia conforme a cultura e desenvolvimento da sociedade em que vive."
"Com a chegada da terceira idade, alguns problemas de saúde passam a se tornar mais comuns, como por exemplo, a osteoporose e o mal de Alzheimer." 
"Nessa fase os idosos apresentam mudanças físicas e emocionais, e suas habilidades regenerativas acabam ficando limitadas, o que os expõe a perigos, por isso nessa fase o sistema de saúde público ou privado torna-se bem importante."






Marise Jalowitzki
Compromisso Consciente


Escritora, Educadora, Ambientalista,
Coordenadora de Dinâmica de Grupo,
Especialista em Desenvolvimento Humano,
Pós-graduação em RH pela FGV,
International Speaker pelo IFTDO-EUA
Porto Alegre - RS - Brasil 


Nenhum comentário:

Postar um comentário