sexta-feira, 1 de fevereiro de 2019

Sirenes nunca foram testadas em Brumadinho. Programa de Prevenção da Vale limitou-se a instalação de sirenes - sem testar -, preenchimento de um questionário, uma reunião e um jornalzinho mensal, contando as coisas boas que a Vale faz



Sirenas nunca foram testadas. Só na noite posterior à tragédia, quando havia o risco de rompimento de outra barragem. Enterros acontecem sem velório, cemitérios mal comportam tantos corpos. Rio Paraopeba está morto.


"Depois de tudo aquilo, eu imaginava que iam treinar os moradores, criar um plano de fuga, soar as sirenes para a gente ver como que era. Mas a Vale não apareceu mais. Aquela sirene nunca tocou, eu nem sei qual é o som dela", diz ele.



Depois dos questionários, da reunião com slides e de instalar as sirenas (sem testar), a direção da Vale voltou pra matriz. Seu Geraldo pensou que, se a Vale havia ido embora da região (saído de Brumadinho), então, isso devia significar que não havia perigo. "Eu pensei: se tivesse um risco real, iminente, a Vale teria continuado com a prevenção. Como o pessoal desapareceu, não voltou lá mais, imaginei que estava seguro".
Sirenes nunca foram testadas. Programa de Prevenção da Vale em Brumadinho limitou-se a instalação de sirenes - sem testar -, preenchimento de um questionário, uma reunião e um jornalzinho mensal, contando as 'coisas boas' que a Vale faz

Assista vários videos com o exato momento do rompimento. clique AQUI


Por Marise Jalowitzki
01.fevereiro.2019
https://compromissoconsciente.blogspot.com/2019/02/sirenas-nunca-foram-testadas-em.html 

Com o coração contrito por toda esta tragédia em Brumadinho-MG, após muitas publicações (compartilhamentos) no FB, decido escrever um pouco sobre pensamentos, sentimentos e sensações que não querem ceder lugar ao cotidiano.

A primeira abordagem é sobre as desverdades que começam a ser ditas na grande mídia, e, se não desverdades, a veiculação de meias-notícias, meias-verdades, que sempre tentam dar um toque mais ameno ao horror que a população afetada está passando.


Nada, nada vai trazer de volta tudo o que perderam, ninguém vai ocupar a saudade dos que foram tragados, toda a dor da perda tem de ser vivenciada, respeitada. 


E os fatos, o mais próximo possível da realidade.


Assim, quero comentar hoje sobre as sirenes, que foram instaladas no ano passado, MAS QUE NUNCA FORAM USADAS, a não ser na madrugada posterior ao desastre, quando foi anunciado o risco iminente de rebentar outra barragem. Pode parecer um fato simples, de somenos importância frente a toda a tragédia, mas não é não! Fazer de conta que os treinamentos ocorreram, que a população estava ciente do perigo, quando não estava, mostra bem a negligência, o descaso, a irresponsabilidade para com todos os seres envolvidos (mortos ou parentes de vítimas), além da fauna e flora, todos duramente afetados.


Ontem (31.jan) assisti a um video onde um rapaz, supostamente empregado da empresa, declara que houve treinamentos, que naquele dia não deu tempo de tocar a sirene, que foi tudo muito rápido...lembrou-me um funcionário de Mariana que, uma semana após a tragédia, 3 anos atrás, também veio a público (certamente pago pelo 'chefe') pra dizer que o rio tava limpo e a "água tava boa"... vergonhoso! Pouco depois desta declaração, no mesmo dia (30.jan.19), foi a vez de Schvartsman declarar que "as sirenes foram engolfadas pela inundação e não deu tempo de serem acionadas.


Não é o que demonstram os videos assustadores que estão circulando, onde se percebe o tempo que leva a poeira, depois a lama. E, se tudo ficou submerso, derrubado, banido, como foi que a sirena soou na madrugada posterior às tragédia?


Vários, vários foram os depoimentos que li, durante todos estes dias, de moradores do lugar contando que não foi ouvido nenhum sinal. E por uma razão simples: nunca haviam sido testados!


A prova está nesta riquíssima matéria, que conta a saga incrível de um casal morador em um sítio. Uma leitura atenta vai fornecer muitos detalhes sobre o descaso com que a Vale tratou um assunto tão sério, como é a prevenção, e que deveria estar no topo de suas preocupações.


Agora, o presidente da Vale, Schvartsman, fala em 'doação' de 100 mil a cada atingido (ou família deste), a ser acertado extrajudicialmente. Ai, ai. O argumento é que seja pra acelerar o pagamento. Quem garante que, após o acordo, o pagamento seja efetivamente feito? E que, uma vez assinado o acordo, nada mais poderá ser requerido futuramente??? Sim, pois as sequelas, físicas, emocionais, ambientais são imprevisíveis. Um acordo acordo significa: 100 mil e estamos conversados! O salário de Schvartsman é de 1,6 milhão/mês. Para ele, o valor de uma vida, o sofrimento das famílias, as perdas materias e afetivas de cada um dos atingidos, representa apenas 6% de seu salário...


Que a Justiça aconteça! Que sejam punidos e paguem! E não como aconteceu em Mariana onde, das 60 multas, até hoje, pagaram apenas uma!!


Que Deus oriente estas famílias!

Aqui, um video produzido por Leandro Dias, funcionário da Vale, no exato momento em que a poeira atinge o pátio da empresa. Não se sabe se ele está vivo ou não. 
https://www.redetv.uol.com.br/jornalismo/RedeTVNews/videos/cidades/video-mostra-funcionarios-desesperados-no-momento-do-rompimento-da-barragem



Aqui, um video produzido do alto de um guindaste, mostrando o desespero dos trabalhadores -  Fazer o que, quando a negligência toma conta de quem deveria zelar pelos seus trabalhadores ?


Segundo o horário da filmagem, o rompimento da barragem ocorreu às 12h28 da sexta-feira (25). O vídeo tem duração de 1 minuto e 20 segundos e mostra veículos tentando fugir do local.
No começo, surge ao fundo uma coluna de poeira que avança e, logo depois, a lama aparece cobrindo o relevo da região em segundos.
É possível ver, à direita, uma composição de trens que para assim que acontece o rompimento, além de veículos que tentam, mas não conseguem, escapar dos rejeitos.
Na quinta-feira (31), os bombeiros informaram que subiu para 110 o número de mortos. Ao todo, segundo a Defesa Civil de Minas Gerais, são 238 pessoas desaparecidas.
Video com o relato do motorista do carro que anda em círculos no momento da explosão da barragem: https://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2019/02/01/interna_gerais,1026920/u2019parecia-tudo-perdido-u2019-diz-trabalhador-que-estava-na-caminh.shtml?utm_source=onesignal&utm_medium=push
Excerto da matéria de Amanda Rossi, publicada em O Globo:


Vera e Geraldo - Nunca ouvimos as sirenes - O medo da barragem
Vera e Geraldo compraram a chácara em 2006, procurando um local tranquilo para se aposentar. Antes, viviam em uma cidade próxima - ele, funcionário da empresa de saneamento de Minas Gerais, ela, empregada doméstica. Queriam ter uma horta, um pomar, criar galinhas.


O casal Vera e Geraldo que, milagrosamente, escaparam do tsunami de lama tóxica que destruiu totalmente sua casa.

No início, nem sequer sabiam que, perto dali, havia uma barragem de mineração. Muito menos imaginavam que aquele poderia ser um local de risco, o trajeto por onde passaria o rejeito em caso de rompimento.
Afinal, no Parque da Cachoeira, não havia comunicados, placas, reuniões com moradores para tratar do assunto, planos de evacuação de emergência. Havia apenas o vale, de onde não se via nenhum pedaço da mina do Córrego do Feijão. Por isso, nem quando ocorreu a tragédia de Mariana, em 2015, Vera e Geraldo ficaram preocupados. Nem eles, nem a maioria dos vizinhos.
Até que, em 2018, esse clima de tranquilidade foi rompido: a Vale começou a instalar torres com sirenes perto do Parque da Cachoeira. "Sirenes para alerta de rompimento da barragem, para fuga mesmo", diz Geraldo. Uma delas foi colocada bem em frente do terreno do casal, do outro lado do vale, há uns 500 metros. Assim, toda vez que saíam de casa, viam o poste de emergência, com uns 12 metros de altura.
Pouco depois da instalação das sirenes, funcionários da mineradora começaram a visitar as casas da região para aplicar um questionário, relata o casal. Anotavam os dados de todos os moradores e perguntavam: "Se for para sair correndo, há alguém na casa com problema de locomoção, algum idoso?", lembra Geraldo.
Foi aí que o casal entendeu: a parte baixa do Parque da Cachoeira estava no caminho da barragem. A informação tinha um gosto amargo. O que era para ser uma vida tranquila poderia virar um pesadelo.
Vera, então, foi conversar com o velho Geraldo, o vizinho de 90 anos, para saber o que ele achava da situação. A resposta dada, de que a barragem era grande e perigosa, fez com que ela não sossegasse nunca mais. Todo dia, pensava no perigo da barragem romper. Seu maior medo era que isso ocorresse de noite, quando todos estivessem dormindo.
"Eu falava para ele: Geraldo, eu não tô mais satisfeita aqui, a gente podia procurar outro lugar para morar. Tudo que eu vou fazer eu lembro dessa barragem. À noite, eu fico sempre pensando", relata Vera.
"A Vera sempre dizia para a gente ir embora. Mas não era fácil sair dali. Você leva uma vida inteira para construir sua casa. Porque a pessoa que tem poucos recursos vai construindo aos poucos. Depois de anos de construção, você chega num ponto que aquilo ali está pronto. E de repente você tem que deixar tudo porque tem ameaça de uma barragem? Não é fácil", diz Geraldo.
As sirenes e os questionários alarmaram toda a comunidade. Para tentar acalmar os ânimos, em meados do ano passado, foi marcada uma reunião entre a Vale e os moradores do Parque da Cachoeira, no campo de futebol do bairro. A mineradora chegou a montar uma tenda no local e a exibir slides em um projetor, com informações sobre as barragens, segundo relato dos moradores.
Adilson Chavez Ramos e Ademir Caricati, presidente e vice-presidente da associação de moradores local, a Acopapa, relatam que os representantes da Vale presentes na reunião tentaram tranquilizar a comunidade: não havia risco nenhum de rompimento. Podiam ficar tranquilos - prova disso seria que as instalações da própria empresa ficavam ali, logo após a barragem.
O vereador Juliano Lopes, de Belo Horizonte, estava presente na reunião. Presidente da Comissão de Meio Ambiente da Câmara de Vereadores, ele pretendia se eleger, naquele ano, a deputado estadual e contava com o apoio da comunidade. "Teve muito questionamento da população. Mas a Vale falou que estavam preocupados em excesso e que não havia necessidade disso. Afinal, estava tudo monitorado.”
Após os episódios das sirenes, dos questionários e da reunião, a Vale desapareceu do Parque da Cachoeira, contam Geraldo e Vera. "Depois de tudo aquilo, eu imaginava que iam treinar os moradores, criar um plano de fuga, soar as sirenes para a gente ver como que era. Mas a Vale não apareceu mais. Aquela sirene nunca tocou, eu nem sei qual é o som dela", diz ele.
A partir daí, "a única notícia que a gente tinha da Vale era um jornalzinho que passaram a entregar em casa todo mês. Lá, eles publicavam as coisas boas que a Vale vinha fazendo", ironiza.
Se a Vale havia ido embora da região, pensava Geraldo, então, isso devia significar que não havia perigo. "Eu pensei: se tivesse um risco real, iminente, a Vale teria continuado com a prevenção. Como o pessoal desapareceu, não voltou lá mais, imaginei que estava seguro".
Já Vera insistia que deveriam ir embora dali. Falavam tanto sobre o assunto que chegaram a traçar uma rota de fuga imaginária. "Eu falava: se a barragem estourar, eu subo pela ladeira. Se eu chegar até ali na (casa da) Sandra do Lúcio, eu tô salva. Já o Geraldo dizia: pois, eu não, eu passo aqui por dentro da mata", lembra ela. "E na hora que aconteceu, nós trilhamos exatamente esse caminho. Eu subi pela rua e ele pelo mato.”

(...)
Do futuro, ainda não sabem nada. "Agora, todos os esforços tem que ser em Brumadinho. A gente fica esperando aqui", fala Geraldo. E depois? "A gente espera um local para morar e a mobília da casa, já que perdemos tudo. E eu acredito que é só isso, porque o valor emocional do que a gente perdeu nunca vai ser recuperado", diz Geraldo. "Mas, pelo menos, a gente vai poder sair desse quarto. Ter um lugar com um pouco mais de liberdade. E levar a Nilza", fala Vera. "O problema é que já estamos velhos. Não sei se vai dar tempo de recuperar o que perdemos."

Mulher é resgatada com vida, apesar de fraturas nas pernas. O trabalho exemplar dos bombeiros socorristas e a ajuda dos voluntários

População e brigadistas não medem esforços para salvar vidas de todas as espécies.


(Imagens colhidas na web)

Informação pra aqueles que acreditam que a Vale-De-Morte vai ter "muito prejuízo"
"Em um único dia a Vale perdeu mais de R$ 70 bilhões em valor de mercado, na primeira sessão da Bolsa brasileira após o rompimento da barragem em Brumadinho (MG). Mas essa queda repentina significa que a empresa continuará perdendo valor nos próximos meses?" https://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2019/02/01/acoes-vale-valor-de-mercado-barragem-brumadinho-mariana.htm?utm_source=chrome&fbclid=IwAR3FQG2wFiZJITX6a0EBDl3iDnefa2HsPijLD8aU2I19XxWSJvQ8eITAl4o



Vale-De-Morte, CRIME!!!
Depois da tragédia em Mariana, ao invés de intensificar a segurança, reduziu em 44%!!!

Quais as providências do governo para que haja fiscais em número compatível ao exigido?
São apenas 35 fiscais em todo território nacional, para fiscalizar amsi de 700 barragens!

Ou o governo vai simplesmente ignorar a recomendação da ONU?
https://www.redetv.uol.com.br/jornalismo/redetvnews/videos/cidades/brasil-nao-tem-fiscais-suficientes-para-evitar-desastres-com-barragens?fbclid=IwAR3rTOYLAitgGcgk3vY-wsrkVe9GCAJ_CPhr7qjbn9ZcZ4iGgXloqPlNcfg



 Marise Jalowitzki é educadora, escritora, blogueira e colunista. Palestrante Internacional, certificada pelo IFTDO - Institute of Federations of Training and Development, com sede na Virginia-USA. Especialista em Gestão de Recursos Humanos pela Fundação Getúlio Vargas. Criou e coordenou cursos de Formação de Facilitadores - níveis fundamental e master. Coordenou oficinas em congressos, eventos de desenvolvimento humano em instituições nacionais e internacionais, escolas, empresas, grupos de apoio, instituições hospitalares e religiosas por mais de duas décadas Autora de diversos livros, todos voltados ao desenvolvimento humano saudável. marisejalowitzki@gmail.com 

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