Como se constrói uma Fofoca - Mentira sobre tartarugas



Tartarugas na Costa Rica - Arribada



Como se constrói uma Fofoca - Mentira sobre tartarugas

Por Marise Jalowitzki
15.abril.2011
http://t.co/b50XiL9

Vem desde o 2º trimestre de 2010. Não sei como começou a veiculação dos boatos. Não sei quem foi o autor. Não sei qual foi a intenção. Desconheço quem fez possíveis alterações... Pronto! Nasceu mais uma grande Fofoca! De um fato real, inserem-se algumas distorções, as pessoas, algumas "loucas" por um sensacionalismo; outras, realmente sensibilizadas, outras mais, sem nem prestar atenção, continuam passando adiante a mensagem recebida. Repete-se isso mais uma centena de vezes e vira uma verdade inconsteste!!!

Cada um precisa cuidar antes de divulgar mensagens e idéias. A responsabilidade em preservar a (sua) credibilidade exige um cuidado preventivo.

A fofoca pode ser a divulgação de inverdades ou a omissão das verdades. São coisas diferentes, mas ambas produzem efeitos devastadores

Foi assim, durante anos, com fotos de Chernobyl ou outras deformações físicas. As "correntes do bem" passavam (ainda passam) e repassavam (continuam repassando) e-mails com uma foto de uma criança deformada, afirmando que, a cada repasse, essa criança receberia centavos para o seu tratamento médico!... Assim, sem nem perguntar quem "seria" o órgão controlador, qual a conta, quem gerencia esta possível conta, as pessoas vão repassando!

Foi assim com a (...) doação "excedente" de córneas de um hospital em São Paulo... foi assim... tantas correntes, tanto tempo perdido. Muita irresponsabilidade.

Agora, são as tartarugas da Costa Rica. Já recebi uma meia dúzia de vezes; já expliquei; agora, resolvi escrever um artigo dedicado só ao tema. Sei que muitos já o fizeram. Some-se.

Os fatos - Ovos de Tartaruga na Costa Rica



Tartarugas na Costa Rica - a coleta acontece nas duas primeiras noites após a chegada



Tartarugas na Costa Rica - População ribeirinha se envolve na coleta dos ovos

Tartarugas - A atividade é monitorada pela lei da Costa Rica



Na terceira noite da desova, não há coleta nas praias da Costa Rica

Tartarugas vem pelo mar e desovam sempre nas mesmas praias - ribeirinhos coletam os ovos



Como há uma superprodução de ovos, em apenas três noites e, também, como uma forma de inibir a caça às tartarugas, o governo costariquenho  legalizou uma "colheita" de ovos nas duas primeiras noites da desova, garantindo a fonte de renda dos pescadores.
Na terceira noite ninguém mais captura os ovos.

Motivo: a quantidade de tartarugas é tanta na 3ª noite (cerca de 100 mil) que elas lotam as praias escolhidas, remexendo os ovos que foram enterrados nas duas noites anteriores, havendo uma significativa perda.

"Assim, o governo da Costa Rica criou, em 1983, o Refugio Nacional de Vida Silvestre de Ostional (RNVSO) e um rígido controle de coleta de ovos de tartarugas.

Durante as primeiras trinta e seis horas de uma arribada é permitida a coleta de ovos. A partir daí, fica proibida.

Na verdade, a coleta é dos ovos que se quebrariam e não iriam produzir filhotes, pois seriam destruídos pelas fêmeas da segunda leva. Além de se quebrarem, eles se transformariam em focos de contaminação.

Utilizando esse tipo de manejo, os ambientalistas verificaram aumento de até vinte por cento na taxa de eclosão e de nascimento de filhotes.

Conclusão: não se trata de atividade ilegal nem predatória, mas de coleta supervisionada e controlada que trouxe dois resultados visíveis:

- aumento significativo do índice de sobrevivência dos filhotes; - melhoria nutricional e de renda dos moradores da comunidade sem comprometer o meio ambiente." (Texto na íntegra: http://www.quatrocantos.com/LENDAS/430_ovos_tartaruga_costa_rica_mst.htm )

O projeto, ainda que tão bem monitorado, vem sendo analisado, no intuito de verificar o aproveitamento dos ovos para reprodução em cativeiro.

Assista aos videos:

Playa Ostional - http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=ds1jHcwTxAM#at=10

Tortugas Lora - http://www.youtube.com/watch?v=-4EhMLECMzU&feature=player_embedded

Conflicto Verde - http://www.youtube.com/watch?v=po9XG4Og-TY&feature=player_embedded#at=50

Mais informações sobre as tartarugas:
Anidación de la tortuga lora (Lepidochelys olivacea) en el Refugio Nacional de Vida Silvestre Ostional, Guanacaste
Proyecto de aprovechamiento y conservación de los huevos de la Tortuga Lora

Refugio Nacional de Vida Silvestre Ostional, El

Os boatos
Ovos de tartaruga são "roubados" por costariquenhos, ensejando crime ambiental.

A primeira divulgação já é grave, pois o que, na verdade, é sistema sustentável, vem sendo divulgado como depredação.

A segunda divulgação, porém, é ainda pior. Envolve o MST, fala em Rio Solimões.
As fotos são exaustivamente repassadas pela internet, causando indignação.

Assim que recebi esta "segunda versão", fui logo procurar o boné, as camisetas. Nada. Também os rostos dos trabalhadores, não pareciam "estar sendo pegos no flagra".

E mais:
Constava em um site de um parlamentar! O que, em princípio, não deixava/deixa dúvidas quanto à veracidade. Confere? Não! É mentira! Não sei se por irresponsabilidade desse deputado brasileiro (o que é grave, estando ele no papel de legislador popular) ou se por má-fé, mesmo, querendo incitar a opinião popular ainda mais contra o já bem criticado MST.

Quanto ao MST, minha opinião particular é a de que pode haver infiltrações, sim, COMO EM TODOS OS ÓRGÃOS E SISTEMAS. Entretanto, a existência do movimento, assim como os urbanos, é uma voz necessária para que as causas dos menos providos não sejam despejadas pura e levianamente no poço do silêncio, em um país onde se avolumam desmandos e fraudes, como o nosso.

Quanto à divulgação da matéria, do jeito como saiu no site, ensejou uma notificação ao deputado, que retirou a matéria original e, para remediar, publicou um pedido de desculpas.

Mas, como sabemos, a calúnia é como um saco de penas sacudido ao vento. Depois de espalhadas, ninguém mais consegue recolher as penas. Assim, mesmo com o pedido de desculpas do incauto senhor, ainda assim, a matéria continua circulando.

Peço a todos que divulguem junto aos seus contatos, pois é muito ruim que se forme a opínião pública com inverdades.


Desculpas do parlamentar:
"Ao mesmo tempo, pedimos desculpas pela informação equivocada, lamentando o fato de a equipe do Portal de Raul Jungmann não ter checado devidamente as informações antes de publicá-las."

Mais supervisão, Senhor!

Texto na íntegra:
http://www.rauljungmann.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=2320:portal-de-raul-jungmann-desculpa-se-por-divulgar-informacoes-equivocadas&catid=65:noticias-variadas&Itemid=146


Fabio Guttler disse…
Comentário importante e esclarecedor pois essa mensagem, fotos e informações, são falsas…

Primeiro, as fotos mostram tartarugas marinhas (mais especificamente, tartarugas oliva – Lepidochelys olivacea), elas vivem nos oceanos e zonas marinhas costeiras.

Essa espécie de tartaruga não existe no rio Solimões, certamente elas não subiriam o rio Amazonas pra chegar até no Solimões, ou seja, teriam que subir contra a correnteza no mínimo do oceano Atlântico até Manaus antes de desovar.

Outro aspecto: observando atenciosamente as fotos é impossível que isso aconteça nas margens do Solimões, o tipo de areia (escura e grossa) não corresponde com o tipo de sedimento presente nas margens desse rio.

Outro erro grosseiro: basta reparar nas ondas quebrando na beira da praia em algumas fotos!! Isso não é um rio de jeito nenhum!!! A morfologia da praia em questão é típica de uma praia com hidrodinâmica ativa e o seu perfil transversal revela a ação do remodelamento continuo da areia em função das ondas, bem diferente de uma margem de rio (fácil de observar isso na terceira foto).

Mais uma coisa: as margens do rio Solimões não são áreas propícias à produção agrícola e muito menos conhecidas por ter fazendeiros… Além disso, ninguém aparece nas fotos usando um boné ou uma camiseta do MST, o que é no mínimo curioso, caso se tratasse de um acampamento organizado pelo movimento.

Na verdade as fotos que foram utilizadas nessa mensagem vêm da Costa Rica… Provavelmente vc recebeu um e-mail que é uma modificação (bastante mal feita aliás) de uma corrente antiga que falava sobre a exploração de ovos de tartaruga na Costa Rica. O pior é que esse e-mail (corrente) contra a exploração de ovos na Costa Rica já é bastante contestável pois essa prática faz parte do sistema de manejo e conservação realizado nas praias da Costa Rica há muitos anos. O projeto TAMAR BRASIL (Tartarugas Marinhas) explica o caso no texto a seguir:

Penso que seja importante não se deixar manipular por falsas informações. Sou formado em Biologia e Geografia, com mestrado em Oceanografia.


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Mesmo que você não seja um exímio observador de cenários, ou entendedor de erc ossistemas, aproveite a dica: é muito fácil entrar no google, digitar o mesmo título da mensagem recebida, procurar por sites sérios e ler as notícias que ali circulam. pronto. Tudo elucidado.


TEXTO DA TAMAR
http://waves.terra.com.br/surf/noticia/tamar-esclarece-pegadinha/40659

Tartarugas da Costa Rica

Tamar esclarece pegadinha

Por Marcelo Szpilman em 12/03/10 23:01 GMT-03:00

Projeto Tamar esclarece boato sobre violação dos ninhos na Costa Rica. Foto: Luciano Moura.

Nas últimas semanas têm corrido livre pela internet mensagens com o assunto: ”Ajudem a divulgar este absurdo”, contendo fotos de pessoas coletando ovos de tartarugas marinhas nas praias da Costa Rica e os carregando em grandes sacos.


O e-mail termina solicitando: "Favor difundir. Roubam os ovos das tartarugas para vender aos gourmets sofisticados. Repassem. O planeta agradece".


Por orientação do Projeto Tamar  (ICMBio / Fundação Pró-Tamar) é importante esclarecer os fatos e estabelecer a verdade, pois o que sugerem o texto e as imagens não é exatamente o que parece. É mais uma “pegadinha” da Internet.


Verdade = A Costa Rica tem enorme tradição de conservação das tartarugas marinhas.

O pesquisador americano Archier Car, pioneiro na conservação de tartarugas marinhas, há 50 anos já trabalhava para preservar a espécie Lepidochelys olivacea (tartaruga  oliva) em Tortugueiro, Costa Rica, hoje um dos maiores sítios de desovas dessa espécie no mundo.


Uma das características mais impressionantes desta espécie é que ela produz as Arribadas, um fenômeno que ocorre exclusivamente na Costa Rica.


As tartarugas saem juntas da água em direção à praia para desovar, aos milhares, por várias noites seguidas. São mil na primeira noite, cinco mil na segunda noite e assim por diante.


Em cinco noites, cerca de 100 mil tartarugas desovam em pequenas praias - com cerca de 300 metros - em um verdadeiro engarrafamento na areia. Os ninhos das primeiras fêmeas são revirados pelas outras, expondo os ovos ao tempo e aos predadores, o que muitas vezes inviabiliza o sucesso reprodutivo.


Na praia de Ostional, na Costa Rica, onde esse fenômeno também acontece, e que está retratado nas imagens, os moradores locais, baseados em dados biológicos, são autorizados a fazer o aproveitamento dos ovos que são depositados nos dois primeiros dias da arribada e que seriam destruídos pelas fêmeas que desovam nas noites seguintes.


Ou seja, os moradores locais coletam os ovos depositados somente nas duas primeiras noites e deixam os ovos desovados nas três noites seguintes.


Como tudo na vida, há prós e contras. Críticas e elogios. Porém, os conservacionistas da Costa Rica acompanham, através das analises cientificas, o desenrolar dessa experiência que há dezenas de anos mobiliza milhares de pessoas e tartarugas.


Como estratégia de conservação, busca-se fazer um manejo sustentado equilibrando os interesses. Assim não se perdem milhares de ovos, a comunidade local tem uma fonte de renda e as tartarugas fêmeas não são capturadas e continuam se reproduzindo.


30 Anos de Projeto Tamar

No Brasil não há arribadas e as tartarugas oliva concentram suas desovas no Estado de Sergipe e no litoral norte do Estado da Bahia, apresentando a maior recuperação populacional entre as cinco espécies que ocorrem no Brasil.


Esse ano (2010) o Projeto Tamar comemora 30 anos de excelentes serviços prestados na proteção e monitoramento das tartarugas marinhas. Como elas podem levar até 30 anos para se tornarem adultas e aptas a se reproduzirem, estamos recebendo nas praias brasileiras a primeira geração de tartarugas protegidas pelo Projeto Tamar. Começaram protegendo cerca de duzentos ninhos da tartaruga oliva e hoje já são mais de seis mil ninhos por ano.

Marcelo Szpilman é biólogo marinho formado pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e é autor de vários livros de conteúdo ambiental.

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Marise Jalowitzki

Compromisso Consciente

Escritora, pós-graduação em RH pela FGV,
international speaker pelo IFTDO-EUA

compromissoconsciente@gmail.com

Porto Alegre - RS - Brasil