Além de chamar de idiotas, você faz o que?
Por Marise Jalowitzki
23.maio.2014
http://compromissoconsciente.blogspot.com.br/2014/05/alem-de-chamar-de-idiotas-voce-faz-o-que.html
http://compromissoconsciente.blogspot.com.br/2014/05/alem-de-chamar-de-idiotas-voce-faz-o-que.html
Por incrível que pareça, a frase do integrante do Jota Quest
continua repercutindo. Creio que nunca o Altas Horas recebeu tanto Ibope. Serve
como balizador de mais um ponto de revolta do povo. Coisa que, aliás, está
virando uma mania, assim como manifestar esta mesma revolta em forma de
xingamentos, ameaças e retaliações, primeiro nas redes sociais, depois em ações
populares dramáticas e, por vezes, trágicas.
Nosso “Acorda, Brasil!” está
nisso! Reclamar, injuriar e, “sempre que der”, agir com as próprias mãos! O que
o solista da banda conseguiu, com o seu desabafo-julgamento, além de insuflar
ânimos contra os pichadores?
Sim, o que os pichadores fazem é deplorável. Enfeiam ainda mais nossos
muros de concreto, expõem ainda mais nossas gaiolas-apartamentos-prisões. Acabam com
exposições elitistas. Particularmente, sou a favor dos grafiteiros que
trabalham tentando ocultar o caos em que estamos imersos. Cobrem marcas
horríveis de óleo queimado incrustrado nos túneis, põem um colorido bacana nos
muros do cais do porto que encobre a linda visão do por do sol sobre a água, pintam árvores
em meio ao asfalto tóxico, dão colorido a espaços embolorados que a administração pública abandona. E sua ação é voluntária. Sim, os grafiteiros fazem mais bonito o mundo de concreto e
aço que teimamos de chamar de Vida. E os artistas plásticos de renome, que
conseguem um espaço temporal em galerias, produzem um lindo trabalho também,
expressão da arte contemporânea, quase sempre em abstratas e evasivas
mensagens. Como todos nós costumamos ser. Abstratos e evasivos. Também nós, nas críticas, somos tão sem causa quanto aqueles que criticamos. Por ficar apenas nisso, na crítica.
Não, não aprovo o que os pichadores fazem. Dói na alma ver a
ação deles invadindo espaços e arrasando com a produção ali exposta. Mas há que pensar ações preventivas! Há poucos
dias lamentei a morte de um rapazote de 17 anos que caiu do 8º andar, enquanto
enfeiava mais um edifício e recebi algumas críticas por isso.. "Como" eu lamentava a morte de um marginal? "Já foi tarde!" - eu escutei. Mas, meu lamento não foi por “aquele” rapaz em si, cujo
nome nem lembro, e, sim, por toda uma geração que aí está, sem perspectivas saudáveis, tentando silenciosa e escancaradamente chamar a atenção para o descaso mórbido em que a sociedade se acostumou a estar. Seu maior escape são as drogas – lícitas ou ilícitas, receitadas em consultórios e recomendadas em
colégios ou compradas livremente pela web ou em farmácias coniventes. Ou escapando de viver de verdade, utilizando todo o aparato eletrônico que os abstrai sem que se deem conta do voar do calendário. Ou o vandalismo.
Serão apenas os pichadores os idiotas?
Idiotas também somos nós que batemos palmas a declarações
taxativas, que nada mais fazem do que malhar e insuflar mais sentimentos de
revolta e revanchismos. Aprovo a mensagem do cantor que fez a declaração enfática, mas faltou um final educador!
Eu também penso que pichadores são transgressores do status-quo. Eles, os pichadores, não agridem pessoas, não matam, não arrastam pelas ruas pessoas inocentes, erroneamente acusadas; os pichadores não amarram meninos negros que roubaram um celular ou foram ‘identificados’ como possíveis estupradores, nem batem neles até desmaiar ou morrer. Os pichadores agridem nosso subconsciente, agridem nossa mania de querer melhorar as coisas passando uma tinta bonita sobre o feio, agridem o nosso constante empurrar-com-a-barriga, esconder com verniz transparente as agressões que vivemos todos os dias, seja nos 38 bilhões destinados para a copa, seja nos indultos de crimes de corrupção e desvios, enquanto os corredores dos hospitais continuam atulhados de pessoas à espera de um leito e crianças apinhadas em escolas sucateadas. E tudo o mais que já sabemos e que exaustivamente criticamos.
Eu também penso que pichadores são transgressores do status-quo. Eles, os pichadores, não agridem pessoas, não matam, não arrastam pelas ruas pessoas inocentes, erroneamente acusadas; os pichadores não amarram meninos negros que roubaram um celular ou foram ‘identificados’ como possíveis estupradores, nem batem neles até desmaiar ou morrer. Os pichadores agridem nosso subconsciente, agridem nossa mania de querer melhorar as coisas passando uma tinta bonita sobre o feio, agridem o nosso constante empurrar-com-a-barriga, esconder com verniz transparente as agressões que vivemos todos os dias, seja nos 38 bilhões destinados para a copa, seja nos indultos de crimes de corrupção e desvios, enquanto os corredores dos hospitais continuam atulhados de pessoas à espera de um leito e crianças apinhadas em escolas sucateadas. E tudo o mais que já sabemos e que exaustivamente criticamos.
Para cada crítica, duas alternativas de solução
Quero sugerir um exercício individual, que não se pretende
uma ‘lei’, já que de leis estamos fartos; leis que não se cumprem, cumprimento
que ninguém fiscaliza. Quero sugerir que, para cada crítica, todo cidadão
apresente duas alternativas de solução. Práticas, viáveis, e que passe a lutar
para que elas se tornem ações, concretude, mudança efetiva. Assim, sim,
exercitaremos um verdadeiro papel de reforma e melhoria. Só “baixar o pau”, “sentar
lenha”, não. O que faltou no desabafo do cantor foi incluir um alerta aos cuidadores da infâncias, especialmente os pais, para que cuidem melhor de seus filhos, que observem bem em que ele ocupa seu
tempo, o que ele vem comprando e onde está usando o que compra; acompanhar o crescimento de seus filhos e conhecer o que lhes vai no intimo. Ser parceiro e indicar caminhos saudáveis.
Volto-me cada
vez mais para exortar os pais e cuidadores infantis. Ali está o cerne
do necessário e evolutivo ajuste. Tratar da plantinha enquanto está pequena,
direcionar o caule antes que se torne rijo na direção indevida. Sim, temos muitos
focos sociais onde bem pouco resta como possibilidade digna para quem ali
nasce, mas, há tantas vidinhas que tem residência fixa, um ou mais cuidadores,
roupas e alimentação, necessidades básicas supridas, e esses tampouco recebem a semeadura de
conceitos e valores importantes e aplicáveis.
Pais, cuidem bem de seus filhos, hoje. Exortem, sejam
exemplo, mostrem caminho. Se você ama verdadeiramente seu filho, não permita
que ele seja chamado de idiota amanhã. Faça por ele, hoje.
E aos jota quests da vida: divulguem ao grande público as
ações sociais que vocês desenvolvem e patrocinam para que as crianças de hoje
não sejam a próxima geração de idiotas, ok? Só criticar sentado em cima de sua conta bancária não ajuda em nada. Só xingar não vale. Aí não há
saia justa de Groismann que segure.
Proporcionar melhores perspectivas para o
futuro é semear a Paz.
Escritora, Educadora,
Idealizadora e Coordenadora do Curso Formação para Coordenadores em Jogos e Vivências para Dinâmica de Grupos,
Especialista em Gestão de Recursos Humanos pela FGV,
Facilitadora de Grupos em Desenvolvimento Humano,
Ambientalista de coração, Vegana.
Certificada como International Speaker pelo IFTDO-VA-USA
marisejalowitzki@gmail.com
compromissoconsciente@gmail.com
Livro: TDAH Crianças que desafiam
Como Lidar com o Déficit de Atenção e a Hiperatividade na Escola e na Família
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