quinta-feira, 31 de julho de 2014

Hiperatividade, Raiva, Limites, Críticas e Elogios



O "metro" com que um adulto vislumbra aventuras, riscos, desafios, desobediências é um metro diferente do metro de uma criança.



Hiperatividade, Raiva, Limites, Críticas e Elogios

Por Marise Jalowitzki
31.julho.2014
http://compromissoconsciente.blogspot.com.br/2014/07/raiva-limites-criticas-e-elogios.html


"Muitas mudanças precisam acontecer no interior doa lares, sempre que pais se conscientizam de que a situação exige uma revisão nos comportamentos. Pais orientados e bem informados costumam contribuir muito para o tratamento e a minimização principalmente dos sintomas secundários ao transtorno.” É importante que as famílias observem seus próprios hábitos a fim de poder tomar algumas providências assertivas.

Dicas importantes que afetam em muito o dia a dia das famílias

Escolho 3:

MUDANDO OS HÁBITOS DA FAMÍLIA 

EM FAMÍLIAS QUE COSTUMAM

Tentar antecipar-se ao que o outro provavelmente está pensando. Tentar “ler a mente”, dizendo: “Eu sei muito bem o que você está pensando!”

DEVEM TENTAR HÁBITOS MAIS POSITIVOS 

Perguntar o que o outro está pensando, o que ele acha, o que está sentindo, qual a sua opinião, faz com que ele tenha vontade de participar e contribuir.

Ordenar, tentar comandar, tentar impor a sua vontade

Falar de modo agradável, dando oportunidade ao outro para que se expresse no seu tempo.

“Brindar” o outro com o seu silêncio, ignorando-o ou, simplesmente, para não se incomodar e acabar logo com aquilo, emudecer.

Manifestar o que sente é uma alternativa importante. O silêncio só se justifica quando o outro não tem condições reais de ouvir.
(Do Livro TDAH Crianças que Desafiam - Cap. 13 - Relações Familiares e TDAH
 pág. 173 a176)


Assistindo a uma cena na rua

Hoje, entre outras tantas coisas, fui ao "Tudo fácil" tentar fazer a 2ª via de minha Carteira de Identidade, que se foi. Não deu certo, por não haver levado todos os documentos exigidos.

Saí, sentindo a temperatura quentinha dessa tarde, e deparei-me com um casal e um menino de seus 10 anos, eu creio. Eles estavam saindo do Hospital Cristo Redentor, um dos maiores de Porto Alegre.

Chamou-me a atenção a voz alterada do pai e, então olhei para o filho, um pequeno entre o casal. O menino, todo enfaixado, braços, peito, até no rostinho, um olho roxo, carinha de dor. Todos andavam devagar.
Foi quando o pai parou de xingar (falava meio resmungando) e a mãe se fez ouvir:

- Vamos ver se agora tu consegue nos dar um pouco de sossego! Pelo menos enquanto estiver aí, todo quebrado!

O guri viu que eu escutei, rostinho misturado de dor e vergonha, parecia desolado. Desamparado. Ele parecia não entender que o que fizera houvesse sido tão mau! 
E isso é uma verdade! Está comprovado que o "metro" com que um adulto vislumbra aventuras, riscos, desafios, desobediências é um metro diferente do metro de uma criança.

Atravessei a rua e fiquei pensando: Como é que se constrói a raiva dos pais?
Sem dúvida que tira do sério uma criança imprevisível, que faz as coisas diferentemente dos conselhos e ordens dos pais, que desobedece, que se arrisca! É um desafio, mexe com as estruturas daqueles que se sabem responsáveis e que gostariam que as coisas acontecessem de maneira mais amena e tranquila.

Mas, o que fazer quando as coisas saem de modo diferente? Quando o pequeno que veio habitar conosco pensa diferente? Vê as coisas de modo diferente? Toma decisões que são bem diferentes do que todos os demais tomariam? Os limites de todos são testados seguidamente.

Quando a raiva se instala

Agora, o que acontece quando o ressentimento se instala no coração dos pais? 
Por mais que se justifique, a raiva não irá ajudar a família a conduzir esta criança! Um diferente, logo chamado de agressivo, de impulsivo, de opositor, com certeza não "se dobrará" com rechaço, com demonstrações de repulsa, de aversão, de nojo! Já ouvi pai gritando na rua:
"-Eu te odeio!" - para um filho que ousou falar o que pensa!
Sim, os limites dos pais são testados. Ninguém é de ferro! Mas, cuidado com as palavras, pais e mães! E, principalmente, cuidado com os sentimentos que começam a brotar em seus corações! O bom de muitas histórias é que, mesmo quando os ânimos descarrilam, sempre há uma nova chance de retomar a caminhada amorosa! Esse mesmo pai (que gritou "eu te odeio!"), mesmo sem ter "oficialmente" conseguido pedir desculpas pela frase terrível proferida para o filho, logo reatou a relação de companheirismo, aliada a uma proteção que nunca deixou de acontecer. Isto é o que mais importa! Mas que precisa ser explicado por um terceiro ao filho (familiar querido ou terapeuta), para que ele ouça (embora possa não aceitar...).

Importante é criar o hábito de não contabilizar as quedas, os erros e, sim, quantas vezes cada um reconheceu seus erros, o necessário voltar atrás, o levantar-se, a vontade de acertar. 
Vida é ação sem ensaio, não tem "treinar-antes-pra-viver-depois". É ir fazendo e reacertando, rearranjando!




Tudo nasce pequeno! 
E as diferenças começam a aparecer logo cedo na vidinha de um filho! Uma criança de dois-três anos, por exemplo, que se arrasta na calçada para não andar, gritando e escandalizando, sim, ela deve estar cansada e não quer caminhar. Mas ela não pode escandalizar e, após o escândalo, ser simplesmente tomada nos braços sem uma palavra! Ela não vai interpretar que a mãe foi sensível ao cansaço dela. Ela vai interpretar que os berros, o escândalo, o estardalhaço é que fizeram o efeito desejado. E vai continuar esperneando sempre que quiser algo, tornando-se logo, logo, uma 'tiraninha'. É preciso conversa, muita, muita conversa. Perder um pouquinho de tempo, parar, ir para um canto da calçada, falar sobre o cansaço:

- Ai, eu também estou cansada! Vamos parar um pouco! OK, eu acho mesmo que pras tuas perninhas, que são bem menores do que as da mamãe, é muito cansaço, mesmo. Agora que a gente já descansou um pouquinho, a gente vai caminhar um pouquinho também e, logo, logo, a mamãe vai te levar no colo, ok? (E quando a criança sinalizar um novo movimento para não querer andar, tomá-la nos braços, mencionando o acordo).

O pediatra e psicanalista inglês Donald Woods Winnicott (1896- 1971) afirma:  "A violência da criança deve ser enfrentada de uma maneira contundente e emocional. Caso contrário a criança não se dará conta de que o outro também está vivo. Pois se a raiva da criança não for enfrentada por uma raiva autêntica, a criança virá a crer que tampouco o amor do outro seja autêntico." Ele não está incentivando que os pais devam bater, machucar ou humilhar. Está salientando a importância do rapport, do entrar em sintonia, do exercício da empatia, do mostrar que pai-mãe também é humano, também sente! Do mostrar que também é gente, se magoa, revolta, não gosta de certas atitudes! Esta é a forma mais efetiva de os pais 'ensinar' os filhos a sentir e a contatar com seus sentimentos. De entender os motivos dos limites. E do ganho que é viver uma vida em harmonia.

No passado, a obediência era obtida através da sujeição. Alguns pais ameaçavam e gritavam (e às vezes isso dava resultado!); outros partiam para a surra; e alguns perdiam o senso totalmente e espancavam.


"Achatar" as iniciativas de uma criança com tarja-preta
nunca foi solução.




Embora entre quatro paredes ainda ocorram violências, muitos pais, sem saber o que fazer, acabam acreditando que medicalizar, "achatar" com remédios controlados (tarja-preta) possa ser a solução. Entretanto, o mais efetivo é exercitar o autocontrole, ir sinalizando, mostrando com paciência, aconselhando, estando junto, não descuidar do que o filho faz, e aprovando tudo que pode ser admirado e louvado!

Dez anos de idade, como no caso do menino ferido e enfaixado, que encontrei na rua, ainda é idade onde os resultados benfazejos podem acontecer! Quanto mais tempo se passar em discórdias, competições bobas, discussões e humilhações, mais difícil de reatar e conduzir!

Vamos criar estratégias em conjunto! Sempre levando o Amor como norte! Que tal essa: Para cada crítica, dois elogios? Procure, você vai encontrar duas qualidades em seu filho ou filha. É só querer encontrar!


Para cada crítica, dois elogios. Procure, você vai encontrar duas qualidades em seu filho ou filha. É só querer encontrar!


Também serviram de fontes:
Delinquência infanto-juvenil como uma das formas de solução da privação emocional - file:///C:/Users/Marise/Downloads/1096-3003-1-PB.pdf
http://pt.wikipedia.org/wiki/Donald_Woods_Winnicot
http://awmueller.com/psicoterapia_familiar/limitespaisfilhos.htm 


 Marise Jalowitzki é educadora, escritora, blogueira e colunista. Palestrante Internacional, certificada pelo IFTDO - Institute of Federations of Training and Development, com sede na Virginia-USA. Especialista em Gestão de Recursos Humanos pela Fundação Getúlio Vargas. Criou e coordenou cursos de Formação de Facilitadores - níveis fundamental e master. Coordenou oficinas em congressos, eventos de desenvolvimento humano em instituições nacionais e internacionais, escolas, empresas, grupos de apoio, instituições hospitalares e religiosas por mais de duas décadas Autora de diversos livros, todos voltados ao desenvolvimento humano saudável. marisejalowitzki@gmail.com 


Livro: TDAH Crianças que desafiam 

Como Lidar com o Déficit de Atenção e a Hiperatividade na Escola e na Família
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