Houve banalização no diagnóstico do TDAH em crianças? Se sim, qual seria a melhor forma de se diagnosticar a doença?
publicado neste blog em 06.outubro.2015
http://compromissoconsciente.blogspot.com.br/2015/10/houve-banalizacao-no-diagnostico-do.html
Excerto de Entrevista:
Houve banalização no diagnóstico do TDAH em crianças? Se sim, qual seria a melhor forma de se diagnosticar a doença?
Resposta - Ricardo Brasil: Acho muito difícil sustentar a ideia de que não houve e de que não há banalização.
Primeiramente é preciso dizer que a discussão sobre o controverso Transtorno do Déficit de Atenção (com ou sem Hiperatividade) transcende a questão da banalização.
O próprio transtorno está em discussão no âmbito da Medicina e a única pesquisa de metanálise - que apresenta à comunidade científica uma revisão sistemática da produção acadêmica - sobre tratamento de TDAH (realizada num centro canadense de excelência em Medicina), revela que, num período de três décadas, apenas 12 dos 10.000 trabalhos publicados sobre o tema preenchem critérios mínimos de cientificidade.
Ou seja, a polêmica em torno do TDAH está para além da banalização dos diagnósticos e tratamentos. Mas vamos nos ater à questão da banalização: o Brasil é o segundo país do mundo em que mais se prescreve o cloridrato de metilfenidato para o tratamento do suposto transtorno (fica atrás apenas dos Estados Unidos).
Recentemente, a Secretaria Municipal de Saúde da Prefeitura de São Paulo baixou uma portaria (Portaria 986/2014) que institui a regulamentação da dispensação do medicamento por meio de um protocolo que envolve a análise de uma equipe multiprofissional. Decisão importante (a meu ver, um avanço) que reflete um estudo da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) que, por sua vez, aponta, no Boletim de Farmacoepidemiologia, para um crescimento alarmante na prescrição do remédio.
Mas quero enfatizar que a questão não se reduz à banalização - motivo pelo qual não posso responder ao que você me pergunta sobre a forma de se diagnosticar a doença. Embora não seja médico, sou psicólogo e, portanto, também falo a partir de um lugar de ciência. Ora, se a discussão sobre a entidade nosológica ainda não está resolvida nos domínios da ciência, como é possível falar em diagnóstico, tratamento e prognóstico? Penso que minha resposta - no caso, colocada como questão - nos dê a dimensão da seriedade do problema quando falamos de TDAH."
Recentemente, a Secretaria Municipal de Saúde da Prefeitura de São Paulo baixou uma portaria (Portaria 986/2014) que institui a regulamentação da dispensação do medicamento por meio de um protocolo que envolve a análise de uma equipe multiprofissional. Decisão importante (a meu ver, um avanço) que reflete um estudo da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) que, por sua vez, aponta, no Boletim de Farmacoepidemiologia, para um crescimento alarmante na prescrição do remédio.
Mas quero enfatizar que a questão não se reduz à banalização - motivo pelo qual não posso responder ao que você me pergunta sobre a forma de se diagnosticar a doença. Embora não seja médico, sou psicólogo e, portanto, também falo a partir de um lugar de ciência. Ora, se a discussão sobre a entidade nosológica ainda não está resolvida nos domínios da ciência, como é possível falar em diagnóstico, tratamento e prognóstico? Penso que minha resposta - no caso, colocada como questão - nos dê a dimensão da seriedade do problema quando falamos de TDAH."
Extraído de:
Ricardo Brasil - Ricardo Taveiros Brasil é psicólogo, mestrando em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano pelo Instituto de Psicologia da USP, membro do Grupo Interinstitucional Queixa Escolar e do Fórum Sobre Medicalização da Educação e da Sociedade.
Para ler na íntegra, clique: entrevista completa no Facebook
Com satisfação, transcrevo da página do Rubens Bias:
MAIS UMA VITÓRIA NA LUTA CONTRA A MEDICALIZAÇÃO DA INFÂNCIA!
Ministério da Saúde publica recomendações sobre uso abusivo de medicamentos na infância!
As Coordenações Gerais de Saúde da Criança e Aleitamento Materno, Saúde dos Adolescentes e dos Jovens e a Coordenação de Saúde Mental, Álcool e Outras Drogas do Ministério da Saúde divulgaram nesta quinta-feira (01/10) uma recomendação para que Estados e Municípios publiquem protocolos de dispensação de metilfenidato, cujo nomecomercial é Ritalina ou Concerta, seguindo recomendações nacionais e internacionais para prevenir a excessiva medicalização de crianças e adolescentes.
A medida foi tomada diante da tendência de compreensão de dificuldades de aprendizagem como transtornos biológicos a serem medicados, do aumento intenso no consumo de metilfenidato e dos riscos associados ao consumo desse medicamento.
A medida foi tomada diante da tendência de compreensão de dificuldades de aprendizagem como transtornos biológicos a serem medicados, do aumento intenso no consumo de metilfenidato e dos riscos associados ao consumo desse medicamento.
Serviu de base nessa construção o trabalho realizado pelo Fórum sobre Medicalização da Educação e da Sociedade.
Dados expostos na recomendação do Ministério da Saúde indicam que o Brasil se tornou o segundo mercado mundial no consumo do metilfenidato, com cerca de 2.000.000 de caixas vendidas no ano de 2010, e apontam para um aumento de consumo de 775% nos últimos 10 anos no Brasil.
Segundo o documento, as estimativas de prevalência de Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) em crianças e adolescentes no Brasil são bastante discordantes, com valores de 0,9% a 26,8%. O TDAH não pode ser confirmado por nenhum exame laboratorial ou de imagem, o que gera, inclusive, questionamentos quanto a sua existência enquanto diagnóstico clínico. Os custos anuais de tratamento, segundo estudo publicado em 2014, variam de R$ 375,40 até R$4.955,38.
Experiências das Prefeituras de São Paulo (Portaria nº 986/2014) e Campinas/SP mostram como a publicação de protocolos pode contribuir para a diminuição da prescrição excessiva do medicamento.
Por fim, a medida segue orientação da 26ª Reunião de Altas Autoridades em Direitos Humanos (RAADH) do MERCOSUL, realizada em 6 de julho, em Brasília, que afirmou a importância de garantir o direito de crianças e adolescentes a não serem excessivamente medicados e recomendou o estabelecimento de diretrizes e protocolos clínicos.
Segundo o documento, as estimativas de prevalência de Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) em crianças e adolescentes no Brasil são bastante discordantes, com valores de 0,9% a 26,8%. O TDAH não pode ser confirmado por nenhum exame laboratorial ou de imagem, o que gera, inclusive, questionamentos quanto a sua existência enquanto diagnóstico clínico. Os custos anuais de tratamento, segundo estudo publicado em 2014, variam de R$ 375,40 até R$4.955,38.
Experiências das Prefeituras de São Paulo (Portaria nº 986/2014) e Campinas/SP mostram como a publicação de protocolos pode contribuir para a diminuição da prescrição excessiva do medicamento.
Por fim, a medida segue orientação da 26ª Reunião de Altas Autoridades em Direitos Humanos (RAADH) do MERCOSUL, realizada em 6 de julho, em Brasília, que afirmou a importância de garantir o direito de crianças e adolescentes a não serem excessivamente medicados e recomendou o estabelecimento de diretrizes e protocolos clínicos.
O conteúdo completo pode ser acessado no link:
http://portalsaude.saude.gov.br/index.php/o-ministerio/principal/secretarias/sas/saude-da-crianca-e-aleitamento-materno/noticias-saude-da-crianca-e-aleitamento-materno/19970-ministerio-da-saude-publica-recomendacoes-sobre-o-uso-abusivo-de-medicamentos-na-infancia
Data de Cadastro: 01/10/2015 as 18:10:00 alterado em 01/10/2015 as 18:10:00
Brasil é o segundo maior mercado consumidor de Ritalina do mundo.
Confira na íntegra a recomendação do Ministério da Saúde clicando aqui.
Por Cristiane Madeira Ximenes, com colaboração de Rubens Bias Pinto
Nenhum comentário:
Postar um comentário