quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Brô Mc's - O grito Rap dos Guarani-Kaiowá


não quero tua esmola / nem a sua dó, minha terra não é pó / meu ouro é o barro onde piso, onde planto / e que suja seu sapato quando vem na reserva fazer turismo - Brô Mc's - Primeiro grupo de Rap indígena - Eles são Guarani-Kaiowá


Brô Mc's - O grito Rap dos Guarani-Kaiowá

Por Marise Jalowitzki
08.novembro.2012
http://compromissoconsciente.blogspot.com.br/2012/11/bro-mcs-o-grito-rap-dos-guarani-kaiowa_8.html

Quando recebi o video "À Sombra de um Delírio Verde" (veja em http://ning.it/S0p6IH ) chamou-me a atenção a canção dos jovens guaranis-Kaiowá. Era rap. Não foi difícil encontrar os clips das canções que misturam a língua nativa com o português. 

O grupo surgiu de oficinas oferecidas em um Ponto de Cultura da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD). Os quatro rapazes participaram dos grupos de dança da CUFA - Central Única de Favelas, aprenderam a dançar o rap e aí Bruno começou a formar letras de músicas.  Em 2008 nascia o Brô Mc's: Bruno, Charlie, Kelvin e Clemerson. Resolveram que Brô Mc's(Brothers) era um nome bacana, já que são dois irmãos e mais dois irmãos. "Brother, Irmão, em linguagem indígena, seria Xerykey, se for mais velho é Xeryvy se for mais novo", explica Kelvin. Como o rap tem sua origem no inglês o nome ficou assim como uma forma de mostrar ao homem branco que nós queremos paz.

Paz e respeito! salienta Charlie. "A gente ta levando nosso rap onde ta chegando, a gente não é mau que nem os outros pensam, o nosso rosto parece que a gente é bravo, mas não é não, a gente chega conversa e tal, então é isso ai, se quiser conversar vem aqui na aldeia procura o Brô MC`s que a gente vai ta aceitando vocês e seja bem vindo aqui na aldeia. Desejo paz e respeito, tem quer assim mesmo!" 


Charlie, do Brô Mc's, sobre a invasão das terras indígenas e o "descobrimento" do Brasil: É a mesma coisa que a gente chegar na casa de alguém e falar: “eu descobri essa casa”, é que nem se fosse assim aqui, nas historias.


Bro Mc's Rap Indigena - Museu o Indio 20/04/12

http://www.youtube.com/watch?feature=endscreen&v=215tJ6eA9ps&NR=1




Olha que linda letra:


Terra vermelha do sangue derramado
Pelos guerreiros do passado, massacrados
Fazendeiros, mercenários, latifundiários
Vários morreram defendendo sua terra
Onde vivo, aldeia, já existiu guerra
(...)
Guapiru, Bororó
terra onde nascemos e vivemos
com as etnias Kaiowá, Guarani e Terena
Tudo se passou
A realidade vem chegando
Na vos do Brô, ligados pra batalha
(...)
Eu peço a Deus que ilumine o meu caminho
onde eu estiver, eu nunca estarei sozinho
É, eu nunca estarei sozinho.
(...)
Sei que não é fácil, sei que nunca foi,
Corrói o coração
Quem é o dono dos boi?
As lembranças doem nas histórias contadas
pelos pajé de nossas terras roubadas
Anos 70, dezena de família
extensa, cada vez mais exprimido
no fundo das fazendas foram separada em oito aldeia
ignora nossa cultura
nos jogando numa teia
(..)
roubaram nossa terra, a nossa cultura
(..)
na tribo dos guerreiros
na luta (...)
essa é a minha sina
curto co'a família
tomando a minha xixa
estou aqui em cima
sem a minha flecha
mandando a minha rima
mandando a minha rima
(...)


Sou Mc's - primeiros da aldeia
jovens conscientes
(...)
o orgulho é respeitar o nosso povo
e também de quem merece
Sempre a provar
que ninguém é diferente
aos olhos de Deus, somos todos seus filhos
Ambição pelo dinheiro 
fama e troféu
esqueça tudo isso
mas sim, é o dos manos

e truta das quebradas
as mina, ô loco! a amizade
é o que eu digo:o poder da nossa mente
é pra'queles que sente como nós
represento o meu povo
guerreiro e sofredor
acredito o sonho de todo pobre é ser rico
com isso, lutamos nessa vida
algo desejado
correr atrás é preciso
e sempre acreditar em nosso sonho
jovens consciente
é o que há
Lembrando o poder que tem dentro de você!
Que Deus nos guarde
em toda a nossa Vida
Vida!

(...)

(Peguei copiando. Quem tiver a oficial e quiser enviar, sou grata!)
Que Deus conserve esta gurizada pra que não se deixem ofuscar pelo falso brilho da fama ou das drogas. Amém!


Os Brô Mc's  já realizaram vários shows desde 2008. A primeira vez que saíram de suas terras foi em setembro de 2010, quando fizeram um show nos Arcos da Lapa, no Rio de Janeiro. Neste ano de 2012 lançaram seu primeiro CD, cantaram na abertura de show de Milton Nascimento, já estiveram na Globo (em um programa da Xuxa...), fizeram gravações com o Fase Terminal (grupo de rap também de Dourados-Mato Grosso do Sul), estiveram no SESC Belenzinho, em São Paulo. Eles são da RESERVA INDÍGENA JAGUAPIRU e a gravação do primeiro video foi Word (TERRA VERMELHA), na ESCOLA MUNICIPAL TENGATUÍ MARANGATU. 

Kelvin fala sobre São Paulo, que eles conheceram quando fizeram um show no Sesc Belenzinho. "É abafado, parece que não tem ar." Ele sorri de uma teoria sua sobre as placas das ruas que viu. "Anhanguera é um diabo velho. Anhangabaú é espírito mal do rio. A gente diz aqui que vocês foram a um pajé bêbado para dar nome aos lugares." Os Brô MC"s tocaram também em Brasília, na posse da presidente Dilma Rousseff.

EJU ORENDIVE
http://www.youtube.com/watch?NR=1&v=oLbhGYfDmQg&feature=endscreen





INVASÕES - a história do indígena no Brasil
Excerto de uma entrevista que o grupo concedeu em Dourados:

20 – Qual a visão de vocês sobre a história dos índios no Brasil?
(Kelvin) Bom eu acredito que eles foram… Pelas historias dos livros que eu li e gosto de ler essas historias. Eu acho que o índio ele foi massacrado, não é que ele foi massacrado né?! Eles chegaram no Brasil como se fosse um descobrimento, só que eles chegaram lá e disseram que a posse dessa terra era dos “branco” né!


(Charlie) É a mesma coisa que a gente chegar na casa de alguém e falar: “eu descobri essa casa”, é que nem se fosse assim aqui, nas historias.


(Kelvin) Então ai eles começaram a escravizar o povo indígena né?! Só que o povo indígena como ele é acostumado a achar os alimentos deles que vem da própria terra, a própria natureza da o alimento deles, eles (portugueses) acharam que o os índios fossem “fortões” ai eles começaram a escravizar, mandaram eles corta Pau Brasil, exporta e tal ai, mas com o passar do tempo o índio foi resistindo.





Bro Mc's - Tupã | GRITO ROCK '11

http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=KR2o3Ylle6s






PRECONCEITO

Acho incrível como uma iniciativa M-A-R-A-V-I-L-H-O-S-A dessas, mais uma clara demonstração do povo indígena de viver EM PAZ, pode receber críticas do tipo: "Não sei porque um nome americanizado"; "essas roupas de rap", "porque escolheram este ritmo?" Gente, esta é exatamente a proposta! Atrair o mundo jovem com um ritmo que envolve, com letras que puxam para fora dos apelos às drogas e ao crime!
Ainda bem que a aceitação é BEM MAIOR do que a crítica! 
Eles são segregados, são vistos como "bandidos". Declarações deles mesmos, preconceito que recebem até dos policiais que os interpelam, simplesmente pelas características físicas.
Kelvn salienta: "Então eu acho que vai existir sim um monte de preconceito. Quando a gente ganhou lá em Campo Grande (RPB Festival – 2009), eles colocaram um monte de critica sobre o Brô MC`s mesmo, o pessoal falaram que não gosto porque a gente ganhou lá, que a gente não merecia, merecia outro grupo e tal, eu acredito que o preconceito existe sim."

15 – Como que o índio vem sendo tratado na cidade? Essa circulação é tranquila ou existe preconceito?
Clemerson, do Brô Mc's: Alguns lugares que a gente chega tem preconceito, por exemplo a gente mesmo tava no lugar para se apresentar, a gente foi lá para cantar nossas músicas, ai a gente tava lá esperando, ai de repente vem os alunos já falando “aqui não é a usina!” - (em referência aos Guarani-Caiowá que, na maioria, trabalham como cortadores nas usinas de cana-de-açúcar


(Kelvin) Eu acho que como a gente é índio né, a gente é um pouco diferente, a cor, a pele né! E quando a gente ta em tal lugar, as pessoas… Eu não sei qual que é o sentimento dessas pessoas sente quando vê o índio né?! Eles começam a… Principalmente que tem mais preconceito com os índios mesmo é os guarda municipal, não por que eu to criticando os guarda municipal, mas isso acontece por que eu já fui vitima disso, eu e mais tantos indígenas ai. E eu acho isso preconceito por que quando eles chega, eles pensa que a gente um tipo de bandido perigoso, quando a gente usa essas roupas mesmo de Hip Hop, com estilo de rua mesmo, ai eles chega se achando mesmo, querendo ser o dono daquele lugar e tal mandando por a mão na cabeça, revistando ai… Eu não acho legal isso daí não, o preconceito deles ai com os indígenas, isso ai não é bom não. Mas tem vários lugar que o índio é respeitado né?! 


Acho que o pessoal da aldeia de Dourados, a situação do índio aqui, eu acho que ele ta sendo respeitado aqui na aldeia de Dourados, mas em outras aldeias o índio não é respeitado, pelo que eu tenho acompanhado

"O rap pra nós é como uma ferramenta contra o preconceito, o racismo e mostra que nós somos índios, mas a nossa voz nunca vai se calar."
"O rap também te protege!"
"A intenção é mostrar a nossa língua Guarani-Kaiowá e mesclar a nossa língua com o português."
"A nossa mensagem é trazer idéias positivas, pro pessoal não ir pro caminho das drogas e da violência."


 Brô MC’s, quatro jovens indígenas Guarani Kaiowá, da Aldeia Bororó da Reserva de Dourados, no Mato Grosso do Sul (MS). As histórias são relatos de preconceito, do sofrimento de seu povo e um grito de resistência e de apelo à Paz. 
O primeiro CD deles será lançado pelo Ponto de Hip Hop e pelo Ponto de Cultura Todas as Idades, com parceria da Coordenação de Cultura da UFGD. São oito faixas no CD.


Brô Mc's + Fase Terminal - "No Yankee" 
http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=GFAZcjIccHE



Conheça as idéias do Grupo:
Entrevista (escrita): http://www.rapnacional.com.br/portal/bro-mc%C2%B4s-1%C2%BA-grupo-de-rap-indigena/

Em video: CUFA - Central Única de Favelas



CUFA.MS ENTREVISTA | Brô Mc's - Parte 1


http://www.youtube.com/watch?v=DV91uRs2CDg&feature=related


CUFA.MS ENTREVISTA | Brô Mc's - Parte 2

http://www.youtube.com/watch?v=o4fAVnWQT8M&feature=relmfu





Ao fim do show do Brô MC's na inauguração da Vila Olímpica Indígena, o governador de Mato Grosso do Sul, André Puccinelli, é o único que não aplaude. "Não gostei, porque isso é música estrangeira. E eu sou nacionalista." 
http://www.radiocoracao.org/noticias/mc-s-guaranis-garotos-de-reserva-indigena-do-ms-adotam-o-hip-hop-como-cultura
Estadão

Brô Mc's - Rap Tupã: "não quero sua esmola, nem a sua dó, minha terra não é pó..."


Parte da LETRA DO RAP TUPÃ:
"Aldeia, a vida mais parece uma teia / que te prende e te isola, não quero tua esmola / nem a sua dó, minha terra não é pó / meu ouro é o barro onde piso, onde planto / e que suja seu sapato quando vem na reserva fazer turismo / pesquisar e tentar entender o porquê do suicídio."


Eju Orendive


Grupo: Brô Mc's
Álbum: Brô Mc's Demo
Tradução
Aqui o meu rap não acabou 
aqui o meu rap está apenas começando 
Eu faço por amor 
escute, faz favor 
está na mão do senhor 
não estou para matar 
sempre peço à Deus 
que ilumine o seu caminho 
e o meu caminho 
não sei o que se passa na sua cabeça 
o grau da sua maldade 
não sei o que você pensa 
povo contra povo, nõa pode se matar 
levante sua cabeça 
se você chorar não é uma vergonha 
Jesus também chorou 
quando ele apanhou 
chego e rimo o rap guarani e kaiowa 
você não consegue me olhar 
e se me olha não consegue me ver 
aqui é o rap guarani que está chegando pra revolucionar 
o tempo nos espera e estamos chegando 
por isso venha com nós 

Refrão (2x): 
nós te chamamos pra revolucionar 
por isso venha com nós, nessa levada 
nós te chamamos pra revolucionar 
aldeia unida, mostra a cara 

Vamos todos nós no rolê 
vamos todos nós, índios festejar 
vamos mostrar para os brancos 
que não há diferença e podemos ser iguais 
aquele boy passou por mim 
me olhando diferente 
agora eu mostro pra você 
que sou capaz, e eu estou aqui 
mostrando para você 
o que a gente representa 
agora estamos aqui 
porque aqui tem índio sonhadores 
agora te pergunto, rapaz 
por que nós matamos e morremos? 
em cima desse fato a gente canta 
índio e índio se matando 
os brancos dando risada 
por isso estou aqui 
pra defender meu povo 
represento cada um 
e por isso, meu povo, 
venha com nós.
http://www.rapnaveia.com.br/bro-mcs/eju-orendive/5560



Mais neste blog:


Guarani-Kaiowá devem aprender a trabalhar como qualquer um



“Esses índios aí, alguns perigam sobrar. O que não sobrar, nós vamos dar para os porcos comerem”, declara Luis Carlos da Silva Vieira, proprietário do município de Paranhos.

"Guarani-Kaiowá devem aprender a trabalhar como qualquer um", diz governo do MS aos EUA, segundo o Wikileaks





Marise Jalowitzki
Compromisso Consciente



compromissoconsciente@gmail.com
Escritora, Educadora, Ambientalista de coração
Coordenadora de Dinâmica de Grupos,
Especialista em Desenvolvimento Humano,
Pós-graduação em RH pela FGV-RJ,
International Speaker pelo IFTDO-EUA

Porto Alegre - RS - Brasil

2 comentários:

  1. achei linda a matéria, eu sou fã do brô, é um trabalho digno e de respeito...parabéns pela iniciativa

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    1. Que Deus abençoe sempre os garotos! E todos os demais indígenas, povo sofrido e desprezado por tantos "brancos"! Abs

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