segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Haiti, Dinheiro Não Utilizado - O que pretendem os governos???

Haiti - desespero e desalento


Haiti, Dinheiro Não Utilizado - O que pretendem os governos???


Por Marise Jalowitzki
http://compromissoconsciente.blogspot.com/2010/12/haiti-dinheiro-nao-utilizado-o-que-se.html

Quem trabalha pontual e assertivamente neste mundo hipócrita?

Quando o cidadão comum faz uma denúncia, cai no vazio. Alguns lem, poucos comentam, nada acontece. Agora, quando alguém importante, idôneo, imerso na questão, faz uma declaração que é uma verdadeira denúncia, nada, igualmente, acontece. Ninguém apura nada! E então, o que fazer?

Tyler Sainstat é o diretor executivo no Brasil da organização internacional Médicos Sem Fronteiras (MSF). O canadense Tyler denunciou, no início de dezembro (6), como tantos outros já o fizeram, que a ajuda internacional para o Haiti está demorando a chegar e a demora pode comprometer o combate à doença.

“A resposta das organizações internacionais têm sido muito lenta. A falta de dinheiro não é desculpa porque desde o terremoto, elas não gastaram nem metade”, disse Tyler. “Sem dinheiro não podemos continuar” - completa.


Brasil

Em final de outubro o Brasil enviou US$ 2 milhões (cerca de R$ 3,4 milhões) em ajudas no combate ao surto de cólera no Haiti, destinados a aquisição de remédios e fornecimento de equipamentos para hospitais locais, além de dois médicos epidemiologistas, “para auxiliar as autoridades sanitárias locais na montagem de estratégia de combate à doença”, explicou a chancelaria em nota oficial.

Muitas autoridades internacionais e organizações particulares se solidarizaram e enviaram quantias vultosas. Onde está sendo aplicado este dinheiro? Ninguém vai averiguar? Quem vai tomar uma providência?

Toda esta história é, no mínimo, nebulosa.


A doença de cólera estava erradicada no Haiti há mais de um século, mas voltou a aparecer depois das fortes chuvas que castigaram várias regiões do norte do país, após a passagem do furacão Tomas. O Haiti passou, em um ano, por um devastador terremoto, depois pelo furacão (e consequentes inundações) e, daí, a epidemia.

Caso tivesse acontecido mais comprometimento na reconstrução acelerada junto às vítimas do terremoto, a população não estaria tão precariamente exposta ao cólera, doença que é transmitida através de água e alimentos contaminados. As vítimas sofrem com vômitos e diarreia, que podem levar à morte caso não tratadas a tempo.

A epidemia de cólera, que atinge o Haiti há quase 3 meses, já fez 2.000 vítimas fatais e, apesar do empenho de algumas organizações, o atendimento médico-hospitalar continua precário e as condições de higiene, desalentadoras. 

Denúncia sobre "Epidemia importada"

Quando a senadora haitiana Edmonde Suplice Beauzile, do departamento de Plateau Central, denunciou a suspeita de que a doença se tratava de uma "epidemia importada", solicitou uma investigação independente sobre a responsabilidade da Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti (Minustah) na propagação da epidemia de cólera. A principal alegação da senadora era a de que o cólera apareceu justamente depois que voluntários nepalenses vieram junto à Comitiva de Ajuda (militarizada) em auxílio às vítimas do terremoto. Não há notícia de que a investigação tenha acontecido.

Vincenzo Pugliese, porta-voz da missão, declarou ser "errado tentar estabelecer um vínculo direto entre a propagação da doença no Haiti e a missão do Nepal" e ficou assim!  Ele ressaltou que "as denúncias de que os soldados" foram responsáveis pela contaminação do rio "são totalmente falsas".


O que a senadora queria?

Uma investigação para apurar responsabilidades e, no mínimo, assegurar uma indenização aos parentes das vítimas, em um país pobre e, agora, tão mais castigado. A senadora defendeu que soldados nepaleses da Minustah foram responsáveis pela contaminação de um afluente do rio Artibonite em sua passagem por Mirebalais, no leste do Haiti. "Os sedimentos contaminaram o rio, causando a morte de muitas pessoas neste departamento e no de Artibonite, no norte", ressaltou. "Pedimos à Minustah" que solicite a "um organismo independente que abra uma investigação", disse a senadora.

O próprio Tyler declarou: "Agora, não se trata de responsabilizar culpados, temos de nos voltar para o socorro às vítimas". Está certo, foco em resultados imediatos. Só que, passado todo este tempo, ele mesmo tem de admitir que, mais uma vez, interesses excusos tomam pé da questão e impedem o auxílio eficaz.

Foram quase 300 mil mortos pelo terremoto. Mais de três mil pessoas hospitalizadas, com suspeitas de terem contraído a doença. Mais de 300 mortes confirmadas. Quase um milhão e meio de cidadãos desamparados, sem ter onde morar, sem nenhuma estrutura.

Marise Jalowitzki
Escritora e cronista


Haiti - povo vive o conflito: falta água potável, alimento, hospitalização
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