COMPROMISSO CONSCIENTE: LIXO HOSPITALAR - Porque ser pobre é sinônimo de ser humilhado?

Lixo hospitalar - produto altamente contaminante - 12 toneladas descartadas a metros de onde vive uma comunidade pobre em Novo Hamburgo, região metropolitana de Porto Alegre, deixa cidadãos indignados pelos alto risco à saúde daquela comunidade

Lixo hospitalar descartado irregularmente em Novo Hamburgo - divulgação do caso preservou o nome dos [ir]responsáveis, os quatro maiores hospitais de Porto Alegre e a empresa que efetua o descarte.

LIXO HOSPITALAR - Porque ser pobre é sinônimo de ser humilhado?

Por Marise Jalowitzki

01.agosto.2012
http://www.compromissoconsciente.blogspot.com.br/2012/08/lixo-hospitalar-porque-ser-pobre-e.html

Por vezes penso na pequenez de minha contribuição literária, em meio a um mundão tão cheio de informações cada vez mais vertiginosamente rápidas. A maior parte das coisas que procuro, encontro na web. Algumas sem opinião crítica, é certo, mas, penso, com um pouco de analogias e correlações é possível chegar mais perto da verdade do que aquilo que nos informam. Então, até relaxo, sabendo que bem pouca diferença acontece, postando meus artigos ou não. Mas, a cidadã, a cidadã que, como tantos, cultiva a ânsia e o desejo de justiça, clama por providências. E, então, volto a escrever.

Porque ser pobre é sinônimo de ser humilhado? Em uma sociedade que tantas vezes se mobiliza por justiça, que tem um discurso de igualdade, governos que, eleição após eleição, se elegem sob a égide dos direitos humanos preservados, criando leis que garantam o livre exercício desses direitos. Pessoas, com cargos eletivos ou empresariais, seres que alardeiam a necessidade premente de melhorar as condições dos menos providos [e que só estão nesta condição pela ganância irrefreada dos que vem no lucro imediato, sem medir as consequências, seu único objetivo e vida]. Como não ficar indignadamente triste ao ouvir a notícia do lixo hospitalar novamente descartado a céu aberto, ato de total irresponsabilidade?

Novo Hamburgo - Bairro Santo Afonso - Lixo hospitalar ficou três dias a céu aberto. Denúncia anônima trouxe a Secretaria do Meio Ambiente para providências. Hospitais envolvidos e empresa responsável pelo descarte tiveram seus nomes preservados

DOZE TONELADAS de LIXO HOSPITALAR descartadas à beira de um Arroio, próximo à comunidade do Bairro Santo Afonso, em Novo Hamburgo, região metropolitana de Porto Alegre

Pois desta vez aconteceu no Bairro Santo Afonso, um dos mais pobres de Novo Hamburgo (região metropolitana de Porto Alegre), comunidade de gente trabalhadora que todo dia, bem cedo, sai para trabalhar e garantir o sustento honesto dos seus. DOZE TONELADAS foram simplesmente despejadas à beira do Arroio Luiz Rau, no Vale dos Sinos. Felizmente, os moradores denunciaram o descarte irregular, temerosos das consequências para a saúde da população que mora questão de metros de distância do arroio. Foram 30 fardos de lixo hospitalar, incluindo seringas, bolsas de sangue, jalecos e materiais de blocos cirúrgicos em geral!

A Secretaria de Meio Ambiente (Semam) do município gaúcho foi chamada e o material foi recolhido e depositado temporariamente na Central de Reciclagem Roselândia.

A Semam identificou o fornecedor dos produtos descartados e, através dele, verificou que o lixo hospitalar contaminante pertence a quatro hospitais de Porto Alegre.

A Semam promete responsabilizar todos os responsáveis pelo descarte irregular. Uma reunião entre a secretaria e a Delegacia de Proteção do Meio Ambiente (Dema) da Polícia Civil resultou na cobrança de multa de 100 mil reais de cada um dos responsáveis.

O nome dos quatro maiores hospitais de Porto Alegre não foram divulgados!!!... Como não sei se “maiores” significa construção maior ou maior patrimônio financeiro, também não posso especular. Mas, comentando com pessoas conhecidas, logo veio à mente Mãe de Deus, Moinhos de Vento, Santa Casa de Misericórdia, Petrópolis. Mas, nada pode-se assegurar, já que a indignação fica apenas no “será”?

Jalecos, bolsas de sangue, seringas e demais material hospitalar foi jogado a céu aberto, às margens de Arroio.

Todos os envolvidos tiveram os nomes preservados, sem divulgação! Aí, vem novamente a pergunta do título: Porque ser pobre é sinônimo de ser humilhado? Sim, pois quando se trata de um criminoso oriundo das classes menos privilegiadas, a divulgação é exaustiva, closes no rosto, ou os castigos, sempre incluindo prisão. Porque não acontece assim para os demais criminosos, aqueles que podem, facilmente, pagar multas. Quando se trata de um menor infrator (como foi exibido há pouco tempo), ele fica por anos em uma instituição "sócio-educativa", sem fazer nada, acotovelado em aposentos superlotados, recebendo maus tratos, recebendo aulas de crime e a causa de estar ali? ter roubado uma garrafa de uísque!!!

R$ 100 mil reais, se efetivamente pagos, hão de mudar a filosofia de alguns¿ Seja dos [ir]responsáveis pela contratação dos serviços da empresa de descarte (que NÃO ACOMPANHA nem fiscaliza o real destino dado ao lixo contaminante), seja pela própria empresa que “escolheu” um bairro pobre e não se preocupou com o dano ambiental e, PRINCIPALMENTE, não se preocupou com o medo, a humilhação e os riscos que a população do Bairro Santo Afonso sentiu ao ver aquele lixo todo, DURANTE TRÊS DIAS, piorando ainda mais o cenário do local que habitam.

Na realidade é uma multa com caráter pedagógico, para que não se faça mais isso, dado o risco a saúde pública, e da maneira como (o lixo) foi colocado naquela vila pobre”, disse o secretário de Meio Ambiente de Novo Hamburgo, Ubiratan Hack

Lixo Hospitalar – Sul a Nordeste - Dois pesos, duas medidas?

Em 2011, exaustivas manchetes sobre o escândalo envolvendo a importação de lixo hospitalar chamaram durante alguns dias a atenção dos brasileiros. O livre comércio do lixo hospitalar (tóxico) em confecções que incluíam uso domiciliar foi alvo de indignação e muita, muita preocupação por parte dos cidadãos conscientes que, de mãos amarradas, não sabiam o que fazer para se prevenir. Algumas calças jeans suspeitas chegaram a ser examinadas por alguns peritos informais, sem que nada fosse publicamente confirmado. A empresa No Bolso teve suas dependências divulgadas, em algumas ocasiões foram colhidas entrevistas. Quando a empresa cearense Tex Port Inc foi apontada como a empresa responsável pela importação do lixo hospitalar da Europa para o nordeste brasileiro (naquele caso, mais especificamente Pernambuco), o nome do empresário foi preservado e o caso, encerrado.

Mesmo mostrando etiquetas de hospitais espanhóis, portugueses, incluindo hospitais brasileiros (Unimed, Panamericano, Sao Luiz, etc) nada mais foi divulgado.

Está certo isso?

Quando os containeres foram apreendidos em Santa Catarina, também houve silêncio. Investigações que, caso estejam sendo feitas, não chegam ao cidadão. Naquele período, recebi um e-mail de alguém que se identificou como sendo um dos proprietários da empresa infratora (recebedora). Mencionou sua inocência, vítima de envio diverso do solicitado, pela Europa. Perguntei se poderia publicar, até para as pessoas terem oportunidade de ouvir o outro lado. Pediu sigilo, que tinha sido aconselhado a não comentar nem divulgar mais nada. Que política é essa? Ocultar para cair no esquecimento, acaso modifica padrões de conduta? Muda o modo de agir de uma sociedade?

Agora, acontece em Novo Hamburgo. É de doer ver a impunidade que crassa neste país. Quatro hospitais de Porto Alegre são apontados, mas, e o nome deles??? Uma chamada telefônica anônima trouxe a mídia televisiva, que escancarou o lixo hospitalar jogado ao relento, em um dos bairros mais pobres de Novo Hamburgo (área metropolitana de Porto Alegre), o Santo Afonso.

Cada hospital, dizem as notícias, será multado em 100 mil reais. Pronto e ponto. Caso encerrado.

É justo isso?

Parece que as coisas são assim mesmo: SE a mídia pega, o infrator ganha uma multa, tem o nome preservado e fica assim até a próxima.

Os 30 fardos, contendo 12 toneladas de lixo hospitalar foram removidos três dias depois de empestar o meio ambiente. A multa de 100 mil para cada um dos [ir]responsáveis envolvidos, acaso terá alguma aplicação para a melhoria do Bairro Santo Afonso, um dos mais pobres de Novo Hamburgo, no RS?

Difícil entender porque um infrator ‘comum’, um cidadão que comete crimes, tem o nome divulgado, o rosto em close, recebe a indignação popular e as grandes empresas e instituições, não?

Acaso com o nome preservado e a ocultação da prática as irregularidades irão acabar? Por certo que não. Só saberemos de novo quando alguém fizer uma ligação anônima e o telejornalismo escancarar.

Com certeza, não é assim que se cria Consciência Cidadã.

PARA VER O VIDEO - http://g1.globo.com/rs/rio-grande-do-sul/rbs-noticias/videos/t/edicoes/v/hospitais-seriam-responsaveis-pelo-descarte-de-12-toneladas-de-lixo-em-arroio-no-rs/2067786/

Todas as fotos foram tiradas por Deivid Poncio - Divulgação RBS

Referências:

http://g1.globo.com/rs/rio-grande-do-sul/noticia/2012/07/lixo-hospitalar-e-encontrado-na-beira-de-arroio-em-novo-hamburgo-rs.html

http://g1.globo.com/rs/rio-grande-do-sul/noticia/2012/07/responsaveis-por-lixo-hospitalar-no-rs-serao-multados-em-r-100-mil.html

(...) Cada uma das instituições será multada em R$ 100 mil e terá 24 horas para dar uma destinação correta ao material. Se o prazo não for cumprido, a multa subirá para R$ 200 mil. Os nomes dos hospitais não foram divulgados pela Secretaria Municipal do Meio Ambiente (Seman).

“Na realidade é uma multa com caráter pedagógico, para que não se faça mais isso, dado o risco a saúde pública, e da maneira como (o lixo) foi colocado naquela vila pobre”, disse o secretário de Meio Ambiente de Novo Hamburgo, Ubiratan Hack.

O inquérito policial aberto nesta terça-feira (31) pretende esclarecer porque o material foi abandonado às margens do Arroio Luiz Rau. Segundo a Seman, a empresa responsável por recolher o lixo dos maiores hospitais de Porto Alegre normalmente leva os resíduos para Sapucaia do Sul, na Região Metropolitana.

“Pode ter ocorrido, no mínimo, o crime de poluição ambiental, em virtude deste descarte irregular, além de outros crimes. Vamos ver no decorrer da investigação”, explicou a delegada do Dema, Roberta Bertoldo da Silva.

Publicado em 03.agosto.2012:

Hospitais de Porto Alegre dizem que seringas e bolsas de sangue e soro, junto aos jalecos e demais materiais gerados nos blocos cirúrgicos são recicláveis. Moinhos de Vento, Hospital Conceição e Cristo Redentor (GHC) e Hospital de Clínicas são os responsáveis.

Lixo Hospitalar de Porto Alegre - Segue o empurra-empurra

Por Marise Jalowitzki
03.agosto.2012
http://compromissoconsciente.blogspot.com.br/2012/08/lixo-hospitalar-de-porto-alegre-segue-o.html

Mais sobre lixo hospitalar, neste blog:

http://ning.it/pUtc1g